Um veneno chamado bisfenol-A (BPA). Entrevista especial Luiz Jacques Saldanha
A exposição ao BPA pode ter efeitos nocivos para a saúde. Imagem iStockphoto
O Bisfenol A, um composto químico utilizado pela maioria de fabricantes de biberões de plástico, tornou-se alvo de discussões há muitos anos, uma vez que cientistas já detectaram que as substâncias que o compõem, assim como outras resinas de plástico, geram malefícios, principalmente, à saúde humana e, também, ao meio ambiente.
Segundo Saldanha, “está comprovado que, nos organismos femininos, sua ação será o desequilíbrio hormonal, gerando uma série de síndromes, como câncer de mama, entrada precoce na juventude, câncer de útero, endometriose, dentre outras doenças tipicamente de fundo hormonal”.
Luiz Jacques Saldanha é um engenheiro agrônomo e ambientalista. Ele conversou, por e-mail, com a IHU On-Line e explicou os problemas que envolvem o bisfenol A, onde essa substância está presente e como poderia ser substituída, além de nos explicar como ela age em nosso corpo.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais os problemas que envolvem o Bisfenol A?
Luiz Jacques Saldanha – Esta substância foi desenvolvida na década de 1930 do século XX, para ser empregada como hormônio sintético feminino. Consta que outras moléculas foram mais eficazes, como o DES (um anabolizante cancerígeno usado na engorda do gado), propiciando que aquela fosse deixada de lado como hormônio artificial. Desconheço a história de como ocorreu. No entanto, em um momento destas pesquisas laboratoriais, a combinação desta substância com o gás de guerra mais utilizado na Primeira Guerra Mundial, fosgênio (é um gás tóxico e corrosivo de fórmula COCI2). O fato é que, desta reação química, surge a resina plástica policarbonato e sua sigla é PC.
Nos últimos tempos, é uma das resinas plásticas que têm sido utilizadas em muitos produtos comerciais de uso corrente no mundo. É chamada plástico de engenharia e empregada em muitas soluções arquitetônicas. Um destes usos é em alimentos e em mamadeiras e chupetas. Diferente do Brasil, estes produtos foram recentemente proibidos no Canadá. Outra característica bem conhecida do bisfenol A é a de ser um dos componentes da resina epóxi (é um plástico termofixo que se endurece quando se mistura com um agente catalizador ou “endurecedor”), com a qual são feitos o CD e o DVD. Está presente nos enlatados, por exemplo, na película plástica protetora da lata.
IHU On-Line – Como o bisfenol A age no corpo humano?
Luiz Jacques Saldanha – Então, como a maioria destas substâncias artificiais são lipossolúvies e lipofílicas, sofrem grande atração por todos os gordurosos, estejam elas onde estiverem. O que quer dizer que onde houver quaisquer tipos de gorduras sempre haverá a atração e absorção de bisfenol A. E, tendo sido criada originalmente para ser hormônio feminino, sua ação ao ser atraída pelas gorduras é agir como um mimetizador ou imitador, do comportamento dos hormônios femininos (os estrogênios ou estrógenos) em todos os corpos pelos quais tais gorduras irão circular.
Está comprovado que, nos organismos femininos, sua ação será o desequilíbrio hormonal, gerando uma série de síndromes, como câncer de mama, entrada precoce na juventude, câncer de útero, endometriose, dentre outras doenças tipicamente de fundo hormonal. Paralelamente, como os organismos masculinos, ocorre a diminuição, em todas fases de vida, do feto ao ser maduro, de sua capacidade de produção, e a manutenção dos equilíbrios sutis e fundamentais do hormônio masculino, testosterona, para que não sucumba à feminização.
Há pesquisas que explicam como essas situações acontecem no feto e na tenra idade por síndromes que demonstram vestígios do feminino, caracterizando sua impossibilidade de superação da passagem do feminino para o masculino. Estas doenças podem ser a hipospádia (uma malformação congênita da meato urinário), o micropênis (normalmente referido no contexto médico como uma condição de um pênis cujo comprimento quando esticado flácido é mais do que 2,5 desvios padrões abaixo do tamanho médio para a faixa etária, porém funcionante), a intersexualidade (termo utilizado para designar pessoas nascidas com genitália e/ou características sexuais secundárias que fogem dos padrões socialmente determinados para os sexos masculino ou feminino).
Na passagem do menino para o jovem, consta ser a incapacidade da descida dos testículos para o saco escrotal, a falta de capacidade de produzir níveis de espermatozoides que definam fertilidade, a deficiência de produção de testosterona para determinar a maturidade sexual. No jovem e no adulto, consta, dentre outras, a falta de libido dirigida ao feminino com a possível confusão de papéis, a baixa produção de volume de esperma, o aparecimento de câncer testicular, a infertilidade.
IHU On-Line – Existem casos claros de problemas causados pelo plástico usado nas mamadeiras?
Luiz Jacques Saldanha – Quando a resina plástica for o policarbonato, ocorrerão todos os problemas que um excesso da presença de hormônio estrogênico, natural ou sintético, poderá causar a um ser vivo. E, neste caso, onde elas foram feitas com esta resina, bisfenol A, as consequências poderão ser aquelas citadas antes.
IHU On-Line – Que tipos de plásticos são considerados prejudiciais à saúde?
Luiz Jacques Saldanha – Sugiro a leitura deste link, que esclarecerá a questão dos imitadores dos hormônios naturais representados por estas substâncias artificiais. E, para perceber quais as resinas menos prejudiciais à saúde, sugiro ler mais neste link.
IHU On-Line – E esses plásticos deveriam ser substituídos por quais materiais?
Luiz Jacques Saldanha – Hoje, está cada vez mais claro que a utilização do vidro como materiais para as crianças é a solução. Ao mesmo tempo, também está ficando mais explícito que a sustentabilidade planetária passa por materiais que devem ser naturais. E esta decisão nos levará a abandonar todas as moléculas artificiais, principalmente as que serão descartadas.
IHU On-Line – Além de atuar sobre o nosso corpo, de que forma o Bisfenol A age no meio ambiente?
Luiz Jacques Saldanha – Todos os materiais artificiais são desconhecidos dos processos da natureza. O mesmo acontece com o bisfenol A. Talvez uma analogia de se fazer a qualquer pessoa é que compare como ficará o que será excretado após ingerir um pedaço de alface e um de saco plástico, como estes de supermercado. Quem não sabe? E daí pode se extrapolar a todas estas moléculas artificiais, como é o caso do bisfenol A.
(Ecodebate, 01/07/2009) publicado pelo IHU On-line, 30/06/2009 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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