Degelo da Groenlândia pode elevar gravemente nível do mar nos EUA
A extensão máxima da cobertura de gelo no Ártico está sendo reduzida em 2,7% por década
Nova York, Boston e outras cidades da costa nordeste da América do Norte podem enfrentar neste século um aumento do nível do mar superior ao previsto para o resto do planeta, caso o gelo da Groenlândia continue derretendo com a rapidez atual, disseram pesquisadores na quarta-feira.
Nesse cenário, o nível do mar na costa nordeste da América do Norte poderia subir 30 a 50 centímetros a mais do que em outras áreas litorâneas, segundo o estudo publicado [Transient response of the MOC and climate to potential melting of the Greenland Ice Sheet in the 21st century] na revista Geophysical Research Letters.
Isso ocorre porque o degelo na Groelândia poderia despejar tanta água doce no Atlântico Norte a ponto de alterar as correntes marítimas. Matéria de Deborah Zabarenki, da Agência Reuters, com informações complementares do EcoDebate.
“Se o degelo da Groenlândia continuar a se acelerar, poderemos ver impactos significativos neste século na costa nordeste dos EUA como resultado da elevação do nível do mar”, disse Aixie Hu, cientista do Centro Nacional para Pesquisas Atmosféricas, em Boulder (Colorado), que coordenou a pesquisa. “Grandes cidades do nordeste estão diretamente na rota do maior aumento”, acrescentou.
Trata-se de uma avaliação ainda mais sombria do que o prognóstico feito em um artigo de março da revista Nature Geoscience, segundo o qual a temperatura mais alta da água poderia alterar as correntes de modo a elevar o nível do mar na costa nordeste dos EUA em cerca de 20 centímetros a mais do que a média prevista para o mundo todo.
Essa pesquisa, porém, não incluía o impacto do degelo da Groenlândia, o que aceleraria as mudanças na circulação oceânica e enviaria entre 10 e 30 centímetros a mais de água para o nordeste da América do Norte – somando-se ao aumento do nível dos mares já previsto para nível global.
Isso colocaria em risco cidades em altitudes baixas, como Nova York, Boston e Halifax (Canadá), disse Hu por email. Do ponto de vista ambiental, um grave impacto seria a entrada de mais água salgada nos deltas fluviais, segundo ele.
“Numa zona de inundações, como a água mais elevada do mar pode impedir o funcionamento dos sistemas de drenagem, as futuras enchentes podem ser mais graves”, escreveu ele, acrescentando que cidades propensas a afundamento do terreno podem ver essa tendência ser reforçada.
O gelo que cobre grande parte da Groelândia está se derretendo mais rápido agora devido à mudança climática global, o que eleva o nível mundial dos mares. Mas o nível do mar não sobe de forma igual no mundo todo.
O nível do Atlântico Norte atualmente está 71 centímetros mais baixo que o do Pacífico Norte, porque o Atlântico tem uma camada densa e compacta de águas frias e profundas, ao contrário do que ocorre no Pacífico.
O ritmo do degelo na Groenlândia aumenta 7 por cento ao ano desde 1996, mas Hu acha improvável que isso continue. Mesmo assim, ele e os coautores do estudo fizeram simulações por computador que incluíam o ritmo mais acelerado de agora e também cenários mais moderados, em que o aumento do degelo seria de 1 ou 3 por cento ao ano.
O artigo “Transient response of the MOC and climate to potential melting of the Greenland Ice Sheet in the 21st century”
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Transient response of the MOC and climate to potential melting of the Greenland Ice Sheet in the 21st century,
Geophysical Research Letter, 36, L10707, doi:10.1029/2009GL037998, 29 May 2009
Aixue Hu
Climate and Global Dynamics Division, National Center for Atmospheric Research, Boulder, Colorado, USA
Gerald A. Meehl
Climate and Global Dynamics Division, National Center for Atmospheric Research, Boulder, Colorado, USA
Weiqing Han
Department of Atmospheric and Oceanic Sciences, University of Colorado, Boulder, Colorado, USA
Jianjun Yin
Center for Ocean-Atmospheric Prediction Studies, Florida State University, Tallahassee, Florida, USA
The potential effects of Greenland Ice Sheet (GrIS) melting on the Atlantic meridional overturning circulation (MOC) and global climate in the 21st century are assessed using the Community Climate System Model version 3 with prescribed rates of GrIS melting. Only when GrIS melting flux is strong enough to be able to produce net freshwater gain in upper subpolar North Atlantic does the MOC weaken further in the 21st century. Otherwise this additional melting flux does not alter the MOC much relative to the simulation without this added flux. The weakened MOC doesn’t make the late 21st century global climate cooler than the late 20th century, but does reduce the magnitude of the warming in the northern high latitudes by a few degrees. Moreover, the additional dynamic sea level rise due to this weakened MOC could potentially aggravate the sea level problem near the northeast North America coast.
Received 3 March 2009; accepted 6 May 2009; published 29 May 2009.
Citation: Hu, A., G. A. Meehl, W. Han, and J. Yin (2009), Transient response of the MOC and climate to potential melting of the Greenland Ice Sheet in the 21st century, Geophys. Res. Lett., 36, L10707, doi:10.1029/2009GL037998.
* Matéria da Agência Reuters, no Estadao.com.br.
[EcoDebate, 29/05/2009]
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