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Pesquisadores desenvolvem método não-destrutivo para quantificar carbono

Pesquisadores desenvolvem método não-destrutivo para quantificar carbono

A engenheira agrônoma Priscila Coltri vem testando a possibilidade de usar índices de vegetação para estimar a biomassa e o potencial para seqüestro e estoque de carbono de plantações de café. Calculados a partir de dados obtidos por sensores remotos, se bem relacionados com parâmetros biológicos, esses índices poderão ser usados para medir carbono sem derrubar a vegetação. “O cálculo de biomassa normalmente é feito através de análises destrutivas, o que é um procedimento caro e complicado em locais produtivos, visto que há necessidade de arrancar a planta inteira”, afirma Coltri. Os produtores costumam não gostar da idéia. Matéria de Flavia Natércia, da ComCiência.

O trabalho é parte do doutorado de Coltri, orientado por Jurandir Zullo Junior e Hilton Silveira Pinto e desenvolvido desde março de 2008 no Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os dados de campo foram coletados numa fazenda no município de Ribeirão Corrente, nordeste do estado de São Paulo.

A imagem acima, do satélite Quickbird (R4, G2, B3) com 2,4m de resolução espacial, mostra em preto os talhões nos quais foram feitas as medições com as quais os pesquisadores calcularam a biomassa por meio de equações alométricas – que, a partir de dados biofísicos (altura, diâmetro do tronco, índice de área foliar) ou parâmetros climáticos, estimam a quantidade de biomassa seca. Em seguida, utilizando as bandas espectrais do satélite, os índices foram relacionados com a biomassa calculada.

Até agora, ela testou a relação de 3 índices agronômicos – biomassa, altura e índice de área foliar (IAF) – com 3 índices de vegetação de sensoriamento remoto: o índice de vegetação da diferença normalizada (NDVI), o índice de vegetação fotossintético (PRI) e o CO2flux, resultante da integração dos dois anteriores. Além disso, o trabalho envolve ainda a comparação entre dados coletados por dois satélites distintos: o Landsat/TM (bandas 1, 2, 3 e 4), que tem resolução espacial de 30 metros, e o Quickbird (bandas 1, 2, 3 e 4), cuja resolução espacial é de 2,4 metros.

De modo geral, as correlações entre os índices se mostraram moderadas ou fracas, resultados para os quais Coltri aponta duas possíveis explicações. “Primeiro, as equações utilizadas não foram desenvolvidas para as condições de solo e clima do Brasil nem de São Paulo, o que pode sub ou superestimar a biomassa encontrada. Tampouco existe uma equação para esse cálculo em café”, diz. “As baixas correlações encontradas também podem decorrer do fato de que dois dos índices utilizados são mais aplicados para avaliar seqüestro e fluxo de carbono, e não estoque de carbono pela biomassa”, acrescenta Coltri.

O seqüestro é uma medida de quanto carbono a planta tira do ambiente e incorpora em sua biomassa. Já o fluxo de carbono mede quanto do carbono no ambiente a planta emprega no processo de fotossíntese. Por sua vez o estoque representa a biomassa que a planta incorpora permanentemente no tronco, nos ramos, nas folhas e só pode se perder quando há derrubada ou queima. “Estima-se que 50% da biomassa de uma planta sejam compostos por carbono, mas isso pode mudar de acordo com a espécie. Agora estou fazendo análises laboratoriais para saber o quanto da biomassa do café é carbono”, conta a pesquisadora.

Métodos de amostragem indireta têm sido desenvolvidos e aplicados principalmente em áreas e espécies florestais, mas já foram feitos alguns estudos voltados às lavouras como as de cereais e cana, espécies nas quais se observou uma correlação muito forte entre o NDVI e a biomassa. Por isso, a pesquisadora tem feito diversas medições em campo e pretende testar outros índices e outras maneiras de calcular biomassa em lavouras. “Acreditamos que é possível criar um índice ou utilizar alguns já existentes na literatura para calcular estoque de carbono em cafezais. Esse é um dos objetivos de minha tese”, conclui Coltri.

* Matéria da ComCiência, Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, SBPC/LABJOR

[EcoDebate, 23/05/2009]

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