Sustentabilidade: o discurso e a realidade, artigo de José Goldemberg
[Gazeta Mercantil] O que se entende por desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de terem também suas necessidades atendidas. As preocupações com sustentabilidade se tornaram importantes na segunda metade do século XX, quando se tornou evidente – pela primeira vez na história da humanidade – que a ação do homem poderia tornar inviável o tipo de civilização à qual estamos acostumados.
Este tipo de problema já ocorreu no passado em alguns locais sobre a Terra, mas nunca colocou em risco todo o planeta. Exemplos são o que ocorreu na Ilha de Páscoa, que há vários séculos tinha uma população de 30 mil pessoas, que desapareceu completamente quando suas florestas foram destruídas e a agricultura se tornou incapaz de manter as pessoas. Só restaram da velha civilização as grandes estátuas, símbolo de poder. O mesmo ocorreu com parte da civilização maia na península de Yucatã e no Cambódia.
No fim do século XX os problemas se tornaram globais, com o aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento. O clima começou a mudar e a temperatura média da Terra vai aumentar até o fim do século em que vivemos. É necessário que todos nos posicionemos para a tomada de atitudes que possam garantir o futuro de nosso planeta, que será também o nosso futuro. Os profissionais de comunicação, por exemplo, estão conscientes de seu importante papel como influenciadores de pessoas e vão discutir no mês de junho, no Unomarketing, estratégias que levem os seus trabalhos a provocar atitudes positivas de consciência social e ambiental.
A continuarem as tendências atuais, isto só vai se agravar. Isto é, o atual estágio de desenvolvimento que atingimos não é sustentável ou, em outras palavras, durável. Desenvolvimento sustentável é interpretado por muitos governos como crescimento econômico, que é o sonho de todos os políticos. Não há nada de errado em almejar o crescimento econômico – porque tira camadas da população da pobreza. Contudo, o desenvolvimento não pode ser predatório e destruir as florestas, como está ocorrendo na Amazônia, ou ser nocivo à atmosfera, o que ocorre, entre outras coisas, com a queima de combustíveis (carvão, petróleo e gás natural).
Há formas de evitar o desenvolvimento predatório, sem prejudicar o crescimento econômico, usando energias renováveis, como a energia dos ventos, a captação direta de energia solar (para produzir eletricidade), desenvolver energia hidrelétrica ou usar biomassa, como é feito com a cana-de-açúcar, da qual se produz etanol para substituir a gasolina. Parte desta tarefa cabe aos governos, mas o setor privado pode fazer muito adotando práticas cada vez menos poluentes, o que pode ser feito, sobretudo, com indústrias químicas e siderúrgicas.
Sob esse ponto de vista, os países em desenvolvimento (que estão se industrializando) podem adotar tecnologias mais eficientes e mais limpas à medida que crescem economicamente, evitando repetir o caminho seguido pelas potências industriais de hoje, que geraram um passivo enorme de poluição e ineficiência.
As grandes indústrias podem contribuir neste processo, fazendo balanços anuais dos poluentes que estão produzindo e adotando procedimentos para reduzi-los ano a ano. Balanços deste tipo devem acompanhar os balanços financeiros a serem auditados regularmente. Certos setores têm mais dificuldades em fazer isto, como bancos e o setor de serviços, mas o que eles podem fazer no mínimo é usar papel reciclado. Estas ações podem ser acompanhadas de ações de responsabilidade social e ajuda aos menos favorecidos, mas não são um substituto para ações estruturais que reduzam os impactos ambientais de forma permanente.
A nosso ver, é preciso prioritariamente prevenir os danos atuando na sua origem, e não apenas atenuá-los tornando parte da população menos desconfortável. É uma combinação destas duas estratégias que nos levará a um desenvolvimento sustentável. Faz parte deste processo a conscientização dos dirigentes das empresas e do público em geral.
José Goldemberg – Presidente da Comissão de Bioenergia do Estado de São Paulo e da World Energy Assessment
* Artigo originalmente publicado na Gazeta Mercantil, 19/05/2009.
[EcoDebate, 20/05/2009]
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