Novo modelo indica que o aquecimento global poderá ser o dobro do anteriormente estimado
“roleta” que reflete as últimas chances relativas aos vários níveis de elevação de temperatura. Fonte MIT
[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] Uma nova modelagem de dados, ainda mais abrangente do que as anteriormente realizadas, sobre a probabilidade do quanto o clima da Terra pode se aquecer ainda neste século, demonstrou que, sem uma ação rápida e massiva, o problema será de cerca de duas vezes mais graves do que estimado, seis anos atrás, pelo IPCC e, ainda assim, com potencial de ser ser ainda pior do que isso.
O estudo utilizou o MIT Integrated Global Systems Model, uma detalhada simulação computacional de processos da atividade econômica e do clima global, desenvolvido e aperfeiçoado pelo Programa Conjunto sobre a Política de Ciência e Mudanças Globais (Joint Program on the Science and Policy of Global Change), iniciado na década de 1990.
A nova pesquisa envolveu 400 execuções do modelo, cada uma com ligeiras variações nos parâmetros de entrada (processos da atividade econômica e do clima global). Paralelamente outros grupos de investigação estimaram as probabilidades dos vários resultados, com base em variações nas respostas físicas do próprio sistema climático.
O modelo do MIT é o único interativo, incluindo um tratamento detalhado das possíveis mudanças nas atividades humanas – tais como o grau de crescimento econômico, com os seus processos associados, tais como a utilização de energia em diferentes países.
As novas projeções, publicadas na revista Journal of Climate , da American Meteorological Society, indica uma probabilidade média aquecimento de superfície da ordem de 5,2 graus Celsius até 2100, com uma probabilidade 90% para o intervalo de 3,5 a 7,4 graus. Isto pode ser comparado a um aumento da mediana projetada, no estudo de 2003, de apenas 2,4 graus. A diferença é causada por vários fatores ao invés de uma única grande mudança. Entre estas estão os indicadores econômicos e a melhoria da modelagem de dados econômicos, com dados mais recentes, mostrando redução dos esforços por baixos níveis de emissões, em relação ao que tinha sido projetado em cenários anteriores.
Outras mudanças incluem a ‘contabilidade’ de efeitos que mascararam o aquecimento no passado, tais como o resfriamento induzido por vulcões ao longo do século 20 vulcões. Ou em sentido inverso, as emissões de fuligem, que poderiam adicionar ao aquecimento efeito. Além disso, as medições da temperatura do oceano em águas profundas permitem que as estimativas de quão rápido o calor e o dióxido de carbono são retirados da atmosfera e transferidos para as profundezas do oceano. Os resultados indicaram que as taxas de transferência são menores do que o anteriormente estimado.
Desde o último relatório do IPCC vários estudos estão, crescentemente, demonstrando que caminhamos para o pior cenário possível e, o que é pior, caminhando rapidamente para o ponto sem retorno.
Este estudo [Probabilistic forecast for 21st century climate based on uncertainties in emissions (without policy) and climate parameters] é mais um a indicar a absoluta urgência de ações políticas pela redução de emissões.
Para ilustrar o leque de probabilidades reveladas pelas 400 simulações, os pesquisadores produziram uma “roleta” (ilustração no início da matéria), que reflete as últimas chances relativas aos vários níveis de elevação de temperatura. A ‘roleta’ oferece uma representação gráfica da gravidade dos potenciais impactos climáticos.
A nova modelagem, no entanto, ainda não considerou ou incorporou informações de feedbacks positivos que já estão ocorrendo, como, por exemplo, o derretimento em larga escala do permafrost nas regiões árticas e a subseqüente liberação de grandes quantidades de metano, um gás com efeito de estufa muito mais potente que o CO2. Incluindo esses feedbacks, ainda em fase de estudo e avaliação, podemos supor um resultado ainda pior.
O estudo “Probabilistic forecast for 21st century climate based on uncertainties in emissions (without policy) and climate parameters” apenas está disponível para acesso por assinantes. Para maiores informações transcrevemos, abaixo, o abstract:
Probabilistic forecast for 21st century climate based on uncertainties in emissions (without policy) and climate parameters
A.P. Sokolov, P.H. Stone, C.E. Forest, R. Prinn, M.C. Sarofim, M. Webster, S. Paltsev, C.A. Schlosser, D. Kicklighter, S. Dutkiewicz, J. Reilly, C. Wang, B Felzer, H.D. Jacoby.
Journal of Climate, 2009 early online release, posted May 2009
DOI: 10.1175/2009JCLI2863.1
Abstract
The MIT Integrated Global System Model is used to make probabilistic projections of climate change from 1861 to 2100. Since the model’s first projections were published in 2003 substantial improvements have been made to the model and improved estimates of the probability distributions of uncertain input parameters have become available. The new projections are considerably warmer than the 2003 projections, e.g., the median surface warming in 2091 to 2100 is 5.2°C compared to 2.4°C in the earlier study. Many changes contribute to the stronger warming; among the more important ones are taking into account the cooling in the second half of the 20th century due to volcanic eruptions for input parameter estimation and a more sophisticated method for projecting GDP growth which eliminated many low emission scenarios. However, if recently published data, suggesting stronger 20th century ocean warming, are used to determine the input climate parameters, the median projected warning at the end of the 21st century is only 4.1°C. Nevertheless all our simulations have a much smaller probability of warming less than 2.4°C, than implied by the lower bound of the IPCC AR4 projected likely range for the A1FI scenario, which has forcing very similar to our median projection.. The probability distribution for the surface warming produced by our analysis is more symmetric than the distribution assumed by the IPCC due to a different feedback between the climate and the carbon cycle, resulting from the inclusion in our model of the carbon-nitrogen interaction in the terrestrial ecosystem.
DOI: 10.1175/2009JCLI2863.1
Corresponding author address: Andrei Sokolov, Joint Program on the Science and Policy of Global Change, Massachusetts Institute of Technology, 77 Massachusetts Ave., E40-431, Cambridge, MA 02139. E-mail: Sokolov{at}mit.edu
[Por Henrique Cortez, do EcoDebate, 20/05/2009, com informações de Elizabeth Thomson, do Massachusetts Institute of Technology]
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