Geração de resíduos de construção civil: desafios e soluções, artigo de Carol Salsa
Geração de resíduos de construção civil: desafios e soluções, artigo de Carol Salsa
[EcoDebate] O crescimento das cidades e o afluxo de grande número de pessoas aos centros geradores de emprego e renda desencadearam um desafio endereçado às administrações públicas municipais: o recolhimento e destinação final dos resíduos gerados pela construção civil. Uma montanha diária de resíduos constituída por argamassa, areia, cerâmicas, concretos, madeira, metais, papéis, plásticos, pedras, tijolos, tintas, etc. – tornou-se um sério entrave ao cumprimento da Resolução 307/2004 do CONAMA.
Há muitos anos as políticas públicas estão voltadas ao lixo doméstico e ao esgoto. Recentemente, os resíduos da construção civil têm se destacado pelo grande volume coletado diariamente nas grandes cidades, fruto do desperdício e falta de gerenciamento ambiental.
“O resíduo de construção e demolição ou simplesmente entulho, possui características bastante peculiares. Por ser produzido num setor onde há uma gama muito grande de diferentes técnicas e metodologias de produção e cujo controle da qualidade do processo produtivo é recente, características como composição e quantidade produzida dependem diretamente do estágio de desenvolvimento da indústria de construção local, qualidade de mão de obra, técnicas construtivas empregadas, adoção de programas de qualidade, etc . Dessa forma, a caracterização média deste resíduo está condicionada a parâmetros específicos da região geradora do resíduo analisado.” ( Zordan ).
Considerada a maior geradora de resíduos de todos os setores produtivos, a construção civil causa grandes impactos ambientais, como o consumo de recursos naturais, a modificação da paisagem e a geração de resíduos.
Nos canteiros – de – obras brasileiros, acontece um processo de aproveitamento de aparas de materiais como papel, metálicos, plásticos e parte da madeira que tem valor comercial imediato. A composição dos resíduos de construção e demolição – os RCD’s, provenientes das atividades construtivas de edifícios varia em função das suas características, sendo a madeira predominante no volume de resíduos gerados em novas construções e o concreto, nas demolições ( Pinto,1999) .
Estima-se que os RCD’s representam 40 a 60% do resíduo sólido urbano gerado. O pior: na grande maioria, os entulhos são lançados em bota-foras clandestinos, nas margens de rios e córregos, em terrenos baldios, nas encostas, em passeios e outras áreas públicas e em áreas protegidas por lei. As conseqüências são impactos ambientais tais como o assoreamento e entupimento de cursos d’água, associados às constantes enchentes, além de promover o desenvolvimento de vetores nocivos à saúde pública.
Em Salvador, Bahia, a quantidade de entulhos recolhida em obras e reformas chega perto de 60% do total de lixo da cidade. Em Goiânia (GO) e Porto Alegre (RS) esse índice chega a 55%.
Em Belo Horizonte, o volume de resíduos gerados nas obras representa 45 % do lixo recolhido pela prefeitura. A solução foi criar um banco, onde construtoras podem vender e comprar terra e entulho descartados das obras.
Em São Paulo, foram recolhidas por dia mais 15.000 toneladas de entulho, dados da prefeitura de São Paulo, em 08 de janeiro de 2007. A implementação de Ecopontos, locais de recolhimento do material reciclável e a construção de aterros de inertes constituem as soluções adotadas pela prefeitura numa difícil tarefa de tornar o meio ambiente menos poluído ou contaminado, em todas as subprefeituras da cidade. Nos Ecopontos, é feita a reciclagem dos RCD’s que consiste na triagem de materiais nos locais geradores ou áreas receptoras, após a classificação do resíduo, conforme sua composição e propriedades físico-químicas, podendo resultar conforme preconiza a Resolução nº 307 do CONAMA, em :
I- Classe A- são resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados tais como concreto, argamassas, tijolos e solos, entre outros. Representa em torno de 90% da massa dos RCD’s. A reciclagem massiva e os benefícios econômicos e ambientais associados a reciclagem dependem da reciclagem intensiva da fração mineral dos RCD’s. A terra removida pode ser utilizada na própria obra, em outras obras que necessitem de material para aterro, ou na restauração de solos contaminados, aterros e terraplenagem das jazidas abandonadas ( SINDUSCOM-MG, 2005).
II- Classe B- resíduos que podem ser reciclados como metais, vidros e embalagens de papel, papelão e plásticos e devem ser destinados a empresas de reciclagem desses materiais. Embalagens de cimento podem ser recicladas transformando–se em acessórios da moda, papel ou papelão.
III- Classe C- material que não conta com o desenvolvimento de tecnologias adequadas de reaproveitamento .
IV- Classe D- resíduos perigosos da construção como tintas, vernizes, solventes, resinas, amianto, etc.
Outros resíduos de origem mineral podem ser passados por processo de britagem, sendo utilizados em substituição parcial ou até mesmo como agregados naturais em diversas aplicações. Processos menos sofisticados de gestão e reciclagem dos RCD’s podem gerar agregados adequados ao uso como material de enchimento para a preparação de terrenos, em projetos de drenagem, em sub-bases de vias, como estradas e calçadas, sub-bases de pisos e outros produtos simples ( Pinto,1999;SINDUCON-MG, 2005).
O que se tem sugerido é a instalação de uma máquina recicladora que traz embutida vantagens como a economia de transporte e transbordo dos RCD’s. Assim, os resíduos poderão ser submetidos à triagem, reciclagem e comercialização, gerando emprego e renda no mesmo local onde são gerados. Forma-se uma cadeia produtiva em que a empreiteira sai ganhando ao mesmo tempo em que proporciona ao meio ambiente, igual, ou uma maior recompensa.
O elo formado entre todos os que fazem parte da cadeia produtiva da construção civil, desde construtores, fabricantes de cimento e operários, deve servir para uma maior sensibilização dos diversos atores sociais envolvidos para que haja interação dos serviços a serem prestados à sociedade como um todo.
A tecnologia de reaproveitamento de materiais não pára por aí. A invenção do pavimento ecológico foi projetada para utilização em ruas não pavimentadas nas periferias das cidades. É fabricado a partir de entulho da construção civil, como estruturas descartadas compostas por vigas, pilares além de telhas, tijolos, argamassa e pneus velhos.
Alguns pesquisadores da USP afirmam que existem cerca de 4 mil quilômetros de ruas sem pavimentação na cidade de São Paulo, correspondendo a uma distância entre São Paulo e Manaus, cuja solução estaria na adoção da tecnologia do pavimento ecológico por parte da prefeitura .
Como o tempo é um fator necessário para amadurecimento das idéias e promover a resolução dos grandes problemas administrativos, acredita-se que a evolução tecnológica possa compensar ou minimizar cada vez mais os efeitos nocivos ao meio ambiente, compreendidos na fase de reutilização ou reciclagem dos materiais de construção, apesar de todas as inovações até agora concebidas.
Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate, é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais.
[EcoDebate, 18/05/2009]
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