Pesquisadores alertam para aumento de mercúrio no oceano
Os níveis de mercúrio no Oceano Pacífico estão subindo, de acordo com os resultados de um novo estudo. A alta pode significar que mais metilmercúrio, uma neurotoxina humana formada quando o mercúrio é metilado por micróbios, se acumule em peixes marinhos como o atum.
A pesquisa surge em um momento no qual cientistas e autoridades, que até agora se preocupavam mais com a concentração atmosférica do elemento, estão começando a busca por um quadro mais amplo quanto ao ciclo do mercúrio. As diretrizes do governo norte-americano quanto ao teor aceitável de metilmercúrio em peixes estão sob revisão.
Não se sabe ainda ao certo exatamente de que maneira o mercúrio atmosférico – quer lançado diretamente no oceano, quer transportado pelos rios ou depósitos costeiros – é metilado e por fim absorvido pelos peixes, que representam uma das fontes primárias de exposição humana ao metilmercúrcio. Mas novos dados, recolhidos por Elsie Sunderland, bióloga da Universidade Harvard, e seus colegas também propõem um possível mecanismo para a metilação de mercúrio no oceano. Do Nature News.
Atualização oceânica
Os pesquisadores recolheram amostras na parte leste do Pacífico Norte, uma área que também havia sido monitorada em cruzeiros de pesquisa conduzidos por cientistas norte-americanos em 1987 e 2002. Eles estimaram que o mercúrio metilado responde por até 29% de todo o mercúrio contido sob as águas do oceano, com menores concentrações presentes em massas de água mais profundas. Os modelos de computador desenvolvidos pelo grupo indicam que a deposição atmosférica de mercúrio poderia, até 2050, conduzir a uma duplicação das concentrações totais de mercúrio no oceano, ante os níveis existentes em 1999.
A equipe de Sunderland também encontrou uma relação entre os níveis de mercúrio metilado e carbono orgânico. Partículas de carbono orgânico, originado de fitoplâncton ou outras fontes, podem oferecer superfícies sobre as quais os micróbios seriam capazes de metilar mercúrio no oceano, sugerem os pesquisadores. O mercúrio metilado seria posteriormente liberado na água.
“Não temos ainda um mecanismo causal para o fenômeno, mas ele parece estar vinculado ao bombeamento biológico do oceano”, diz Sunderland. Resultados anteriores de observações conduzidas no Pacífico Sul e na região equatorial do mesmo oceano, ela acrescenta, localizaram concentrações semelhantemente altas de metilmercúrio nos locais onde a atividade biológica era mais elevada. A conexão tem implicações para a mudança do clima e para o ciclo do mercúrio. Oceanos mais quentes e mais produtivos, com mais fitoplâncton e mais peixes, poderiam elevar o volume de mercúrio metilado que termina nos pratos humanos.
Os pesquisadores também propuseram a hipótese de que as águas do oeste do Pacífico podem estar recebendo mercúrio depositado devido à elevação das emissões atmosféricas da Ásia, e de lá se deslocando para o nordeste do Pacífico. O oceano agora só pode estar respondendo a cargas de mercúrio mais elevadas geradas por deposição atmosférica passada, diz Sunderland. Daniel Cossa, do Instituto Francês de Exploração e Pesquisa Marítima (Ifremer), em La Seyne-sur-Mer, e seus colegas recolheram dados sobre mercúrio no Mar Mediterrâneo, para artigo a ser publicado em maio pela revista Limnology and Oceanography.
Os dois estudos indicam que nem todo o mercúrio metilado vem diretamente de fontes costeiras ou fluviais, e confirmam que ocorre metilação em profundidades moderadas nas águas oceânicas, de acordo com Nicola Pirrone, co-autor do estudo dirigido por Cossa e diretor do Instituto de Poluição Atmosférica do Conselho Nacional de Pesquisa italiano, em Rende.
Controvérsia natural
“O oceano é uma grande lacuna” no ciclo do mercúrio, diz Pirrone, que também comandou a avaliação científica sobre o mercúrio conduzida no ano passado pelo Programa Ambiental das Nações Unidas.
Robie Macdonald, especialista em mercúrio em águas árticas no departamento oceânico e de pesca do Canadá, diz que embora o mercúrio na atmosfera tenha se elevado em cerca de 400% nos últimos 100 a 150 anos, as concentrações parecem ter aumentado em apenas 30% nos oceanos. “Nós estivemos tão ocupados observando a atmosfera que não nos preocupamos com o oceano”, ele diz. “Ambos os estudos são realmente importantes, no que tange a chamar a atenção da comunidade científica quanto aos efeitos e riscos do mercúrio”.
Quaisquer medidas de controle do metilmercúrio, porém, precisam levar em conta que volume vem de fontes naturais inevitáveis e que volume é gerado por fontes antropogênicas como a combustão de combustíveis fósseis, aponta Pirrone.
E continua a haver controvérsia quanto a isso. A falta de dados quanto às alterações no nível de metilmercúrio em peixes, e quanto às origens naturais ou antropogênicas do composto, levou um tribunal da Califórnia a decidir em março de 2009 que as empresas que produzem atum em lata não precisam informar em suas embalagens sobre o teor de metilmercúrio em seus produtos. A Food and Drug Administration (FDA, agência federal norte-americana que regulamenta alimentos e remédios) está avaliando suas normas quanto ao risco de consumo de metilmercúrio em peixes.
Tradução: Paulo Migliacci ME
* Matéria [Ocean mercury on the increase] do Nature News, publicado pelo Notícias Terra.
** Enviada por Edinilson Takara, leitor e colaborador do EcoDebate.
[EcoDebate, 17/04/2009]
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