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Editorial

Um planeta cada vez mais tóxico, por Henrique Cortez

tóxico

[EcoDebate] Estamos, permanentemente, expostos a um ‘oceano’ de contaminantes químicos, sobre os quais nada sabemos. Incontáveis produtos químicos estão presentes em tudo que usamos, das embalagens de alimentos aos produtos de limpeza. Sem falar dos conservantes presentes nos próprios alimentos.

Nos últimos anos, diversas pesquisas apontam a toxidade de diversos destes produtos, como amplamente demonstrado nos ftalatos e no bisfenol-A (BPA) , contra os quais crescem as campanhas para sua total abolição.

Dois artigos, em particular, foram chocantes o suficiente para me conscientizar do problema e me engajar na socialização das informações cientificas relativas à contaminação cotidiana. Foram os artigos “The illness in Planet Earth” , de James Lovelock e “agrotóxicos: O holocausto está aqui, mas não o vêem”, de Graciela Cristina Gómez.

Por algum motivo, a contaminação química é um tema tabu no Brasil. É raramente discutido, analisado ou pesquisado, mesmo nas universidades públicas.

A grande mídia, em especial, guarda um silêncio obsequioso sobre o tema, mas a mídia especializada também se mantém à distância do assunto. Ocasionalmente o tema é tratado na mídia independente e em alguns blogs.

Não sou defensor de teorias conspiratórias, mas é bom lembrar que as indústrias químicas e farmacêuticas são grandes financiadoras dos centros de pesquisa e universidades. Além de serem grandes anunciantes da grande mídia. Daí ao silêncio é um passo…

O silêncio apenas aumenta a ameaça da contaminação química cotidiana porque, se nada sabemos, nada podemos fazer para nossa proteção, nem mesmo podemos pressionar para que a segurança química seja uma prioridade nas políticas públicas.

Vejamos o exemplo dos agrotóxicos organoclorados, décadas atrás anunciados como uma grande contribuição para a ‘revolução verde’. Depois de décadas e incontáveis estudos sobre sua grande toxidade, com graves danos à saúde, eles foram abolidos na maior parte do mundo.

Foram abolidos e tudo bem, não se falou mais no assunto. A indústria não se responsabilizou por qualquer dano que tenha causado ou por pelas vidas que foram perdidas.

Este é o procedimento padrão da indústria para todos os agrotóxicos que já foram retirados do mercado pelos seus danos à saúde.

Uma das maiores reservas em relação aos transgênicos está no fato de que são produzidos pela mesma indústria que produz os agrotóxicos. Por que ela se responsabilizaria pela segurança dos transgênicos se nunca se responsabilizou pelos agrotóxicos? É o que acontecerá e quem viver verá…

Voltando aos organoclorados, uma importante tese [Ocorrência de compostos organoclorados (pesticidas e PCBs) em mamíferos marinhos da costa de São Paulo (Brasil) e da Ilha Rei George (Antártica)] de Gilvan Takeshi Yogui, descreve claramente que “os compostos organoclorados causam grande impacto na natureza devido a três características básicas: persistência ambiental, bioacumulação e alta toxicidade. Os mamíferos marinhos estão entre os organismos mais vulneráveis à toxicidade crônica desses contaminantes porque, além de concentrá-los em grande quantidade, a fêmea transfere parte de sua carga ao filhote durante a gestação e a lactação”.

O mesmo, em outras pesquisas, foi identificado em todos os mamíferos, inclusive os humanos.

Mais recentemente, um novo estudo [Persistent Organic Pollutant Residues in Human Fetal Liver and Placenta from Greater Montreal, Quebec: A Longitudinal Study from 1998 through 2006], publicado na Environmental Health Perspectives, Volume 117, Number 4, April 2009, demonstra que os POPs (poluentes orgânicos persistentes) ainda são identificados em fetos e placenta, mesmo após 5 anos de seu total banimento na América do Norte.

O mesmo tipo de silêncio impera para todos os produtos químicos que estão presentes na nossa vida e, certamente, com influência em nossa saúde.

Uma boa e direta maneira de demonstrar isto é fazer um rápido apanhado do que já publicamos sobre o assunto. Relacionamos apenas 40% do conteúdo próprio publicado, o que já demonstra o volume de informações que não circularam na grande mídia.

Vejamos alguns casos.

Pesquisa identifica substâncias químicas, utilizadas em Teflon e Scotchgard, em leite materno

Pesquisa associa Bisfenol A (BPA) a problemas cardiovasculares e diabetes

Bisfenol A (BPA): Ferver garrafas plásticas acelera a liberação de substâncias tóxicas

Pesquisador afirma que não existem níveis seguros de exposição ao Bisfenol A (BPA)

Uso excessivo de produtos de limpeza durante a gravidez pode aumentar o risco de asma nos bebês

EUA: água engarrafada com resíduos de desinfetantes, fertilizantes e medicamentos

Industrialização selvagem no Vietnam contamina os rios com resíduos tóxicos

Mercúrio e outras toxinas podem afetar o desenvolvimento do cérebro

Novas pesquisas dizem que o bisfenol-A (BPA) pode provocar danos permanentes no cérebro das crianças

EUA: Legisladores iniciam discussões para a total proibição do bisfenol-A (BPA)

Leite materno pode ser contaminado pela poluição e produtos químicos tóxicos

Toxinas podem afetar o desenvolvimento do cérebro

Antibióticos usados em animais são absorvidos pelas hortaliças cultivadas em solo adubado com resíduos animais

Nova pesquisa reafirma os riscos do bisfenol-A, BPA, para o desenvolvimento de câncer

Estudo estima que a presença de bisfenol-A, BPA, é 11 vezes maior em bebês do que os adultos

Revista alemã identifica contaminação do mel por transgênicos e agrotóxicos

Estudo conclui que pesticidas podem afetar a fertilidade feminina

Estudo indica que o aumento de casos de autismo, nos EUA, pode ser causado por fatores ambientais

Pesquisa relaciona o declínio da fertilidade masculina com a poluição da água

Novos estudos mostram crescentes riscos tóxicos do bisfenol A (BPA) em recém-nascidos

Nova pesquisa relaciona o pesticida Dieldrin ao câncer de mama, por Henrique Cortez

Duas novas pesquisas avaliam os risco de contaminação por PFOA (C8)

Estudo relaciona medicamentos vendidos na Suécia com sérios danos ambientais na Índia

Nova pesquisa reafirma a relação entre exposição química e câncer de mama

Estrogênios ambientais em baixas doses alteram a química cerebral

Estudo confirma que a combinação de pesticidas é ainda mais mortal para peixes

Garrafas de água PET podem conter Xenoestrogênios ou estrogênios ambientais

Pesquisas confirmam de contaminação química e hormonal do leite nos EUA e Europa

Pesquisa relaciona o bisfenol-A (BPA) a danos neurológicos

Pressionadas pelos consumidores empresas dos EUA começam a abolir produtos com somatotropina bovina recombinante (rBST)

Estudo confirma a contaminação de peixes por medicamentos nas principais cidades dos EUA

EUA: Estudo avalia a contaminação da água de poços domésticos

Agroquímicos: O veneno à nossa mesa, por Henrique Cortez

É uma amostragem assustadora. Igualmente assustador é perceber que estas informações foram diligentemente negadas à sociedade, tanto pelas autoridades como pela grande mídia.

A contaminação química é um problema de saúde pública e como tal deve ser tratada.

A sociedade deve cobrar, com firmeza, que as autoridades e a indústria sejam responsáveis, civil e criminalmente, pela segurança de todos os compostos químicos que estão presentes na nossa vida.

Se isto não for rigorosamente observado, estaremos condenados a sobreviver em um planeta cada vez mais tóxico.

Henrique Cortez, henriquecortez{at}ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate

batendo bumbo...

[EcoDebate, 16/04/2009]

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