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Estudo da Fusp vê risco de colapso de água em São Paulo

escassez de água

Em cinco anos, a capacidade de abastecimento de água na Grande São Paulo caiu 5.100 litros por segundo, perda que representa volume suficiente para abastecer 2,5 milhões de pessoas por dia. Cada morador da Grande São Paulo consumiu em 2008, em média, 62.780 litros de água tratada.

A conclusão é de um estudo realizado pela Fusp (Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo), que aponta “iminência de colapso de abastecimento”, levando em conta ainda que a demanda, segundo a Secretaria Estadual de Energia e Saneamento, vem subindo 500 litros por segundo ao ano. Matéria de José Eernesto Credendio, da Folha de S.Paulo, 22/03/2009.

Entre 2002 e 2007, segundo o estudo, concluído em 2008, a chamada disponibilidade hídrica –que inclui água para abastecimento público, industrial e irrigação– caiu de 72,9 mil para 67,8 mil litros por segundo.

A condição é especialmente preocupante, conforme avaliação da secretária Dilma Pena (Energia e Saneamento), porque a Grande São Paulo, que já “importa” da bacia do rio Piracicaba metade da água que utiliza, praticamente esgotou seus próprios mananciais.

“Nossa disponibilidade está quase totalmente comprometida. Os mananciais foram ou estão sendo todo aproveitados, estão se esgotando”, diz Dilma.

Novo sistema

Para ampliar o sistema de abastecimento, deve ser inaugurado em 2010 o sistema de Taiaçupeba, em Suzano, que ampliará a oferta em mais 5.000 litros por segundo –suficiente só para recuperar as perdas acumuladas desde 2002.

Também está em estudo o aproveitamento do sistema São Lourenço, na região de Juquitiba, com potencial para 4.700 litros por segundo. Explorado esse sistema, acabam as opções.

As causas apontadas pela queda na água disponível vão desde a superexploração quanto à degradação das represas, causada principalmente pelo assoreamento.

Cada habitante da Grande SP tem até 201 mil litros de água por ano, menos de um décimo dos 2,5 milhões usados como referência pela Organização Mundial da Saúde para regiões autossustentáveis. O Ceará tem 2,2 milhões de litros por ano, a Paraíba, 1,3 milhão de litros por ano e o Rio de Janeiro, 2,18 milhões de litros por ano.

Embora haja hoje um relativo equilíbrio entre oferta e demanda, trata-se de uma equação frágil, pois uma seca prolongada levará à falta de água, avalia o superintendente de produção da Região Metropolitana da Sabesp, Hélio Castro.

“É bastante preocupante a situação por causa da baixa disponibilidade. Já trazemos de outra bacia [do Piracicaba] 50% da água. Não tem jeito, dois anos de seca já afetariam [o abastecimento]”, diz Castro.

Para ele, caso não haja problemas, o sistema atual deve suportar até dez anos. “Mas até lá teremos disputa pela água com outras regiões. Teremos percalços políticos a enfrentar”, diz o superintendente.

Castro fala em política porque já em 2014 a Grande SP, que importa água da bacia do Piracicaba, terá que renovar a outorga (espécie de acordo que divide a água do Piracicaba) e a região de Campinas já convive com escassez que afeta seu crescimento econômico.

“Já tivemos indústrias que vieram sondar, mas as grandes consumidoras de água têm problemas para se instalar aqui”, diz Dalto Fávero Brochi, secretário-executivo do consórcio de cidades da bacia do Piracicaba.

O Estado atua em três frentes para adiar o possível “colapso” alertado pela Fusp: combater perdas por vazamentos na rede e outras causas –que caíram de 30,1% (1999) para 28,5% (2008)–, incentivar a economia e buscar novas fontes a até 300 km de distância.

A Secretaria de Saneamento e Energia contratou a empresa Cobrape, por R$ 3 milhões, para avaliar a possibilidade de captar água do Vale do Ribeira, das represas de Jurumirim (rio Paranapanema) e Barra Bonita (Tietê) e do aquífero Guarani, a maior reserva subterrânea do planeta, a partir de Botucatu.

A ambientalista Marussia Whately, coordenadora do programa de mananciais do ISA (Instituto Socioambiental), defende que, antes de qualquer nova obra, a Sabesp combata as perdas na rede de distribuição.

Das perdas, de acordo com a Sabesp, 63% referem-se aos vazamentos, enquanto o restante é de submedição e fraudes.

[EcoDebate, 23/03/2009]

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