Fórum Mundial da Água busca soluções e levanta oposição
Represa no Rio Tigre suscitou críticas
Polícia turca agiu duro contra manifestantes
Realizada em Istambul, a quinta edição do encontro tem metas nobres, mas não está isenta de críticas. Organizadores são acusados de servir a interesses privados. Represas na Turquia provocam protestos.
Cerca de 20 mil especialistas, representantes governamentais, cientistas e ambientalistas de 180 países estão reunidos a partir desta segunda-feira (16/03) em Istambul, na Turquia, para o 5º Fórum Mundial da Água.
Fórum reúne 20 mil participantes
Suas intenções são nobres: preservar o precioso elemento para as gerações futuras. Para tal, explicam os organizadores, é necessário fortalecer a posição do tema água na ordem do dia da política internacional, assim como fornecer sugestões concretas para proteger esse recurso natural básico.
Por outro lado, opositores do fórum – cujos preparativos custaram 17,5 milhões de euros – também confluíram para a metrópole turca às margens do Bósforo. E consideram alguns participantes antes parte do problema do que sua eventual solução.
Consequências drásticas
Segundo relatório da Organização das Nações Unidas divulgado na última quinta-feira, as reservas de água potável do mundo estão ameaçadas por fatores que incluem o crescimento demográfico, o aquecimento global, técnicas de irrigação irresponsáveis e desperdício. Se nada for feito, as consequências podem ser uma “crise hídrica global” e instabilidades políticas.
O encontro, que irá até 22 de março, é organizado pelo Conselho Mundial da Água (CMA), uma organização suprarregional a que pertencem numerosos ministérios e instituições de todo o mundo, como o Banco Mundial e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Desde a primeira edição, em 1997, em Marrakech, o fórum tem-se realizado a cada três anos e já passou por Haia, por Kyoto e pela Cidade do México.
O slogan este ano é “Superando os divisores de água”, numa referência ao palco do fórum, que é uma cidade no ponto de encontro entre a Europa e a Ásia. O presidente da Turquia, Abdullah Gül, e o premiê Recep Tayyip Erdogan encontram-se entre os dirigentes presentes em Istambul.
Mudança climática e potencial de conflito
Antes do encontro, o diretor da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), Mark Smith, alertou que até 2025 dois terços da população mundial estarão vivendo sob os efeitos da carência de água. “O aquecimento global se fará sentir em primeiro lugar, e de forma mais forte, na água, seja na forma de secas, cheias, tempestades e degelo, seja na elevação do nível do mar”, declarou o chefe da organização sediada em Genebra.
Falando à rádio alemã Deutschlandfunk, o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, também advertiu sobre as consequências da distribuição desigual da água no mundo, a qual elevaria o potencial de conflito em diversas regiões.
Também as mudanças no clima mundial pioram o fornecimento de água. As regiões mais afetadas são aquelas onde há oscilações climáticas extremas, disse Steiner. O tema ganha importância especial diante da atual crise econômica global, observou o teuto-brasileiro.
Mau exemplo da Turquia
As vozes críticas apontam supostas contradições gritantes e erros e acusam o fórum de servir aos interesses das grandes operadoras de água. Elas classificam como uma violação dos direitos humanos a proposta, que vem sendo debatida, de privatizar os recursos hídricos do planeta. Os organizadores do encontro rebatem a acusação, declarando-se imparciais.
Antes do início da conferência, a polícia de Istambul coibiu, com gás lacrimogêneo e golpes de cassetetes, uma ação de protesto de grupos de esquerda, prendendo cerca de 20 manifestantes. Ambientalistas acusam a Turquia de, através de seus controversos projetos de represas, expulsar dezenas de milhares de pessoas de sua região natal, destruir tesouros culturais e causar danos ecológicos.
AV/AS/afp/ep/ap
* Matéria da Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE
[EcoDebate, 17/03/2009]
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