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Água e o clima em discussão no 5o Fórum Mundial de Água

escassez de água

Soluções a conta-gotas – Água é o tema central, e o clima, o pano de fundo, do 5º Fórum Mundial de Água, que começa na segunda-feira em Istambul e que debaterá alternativas para melhor convivência com a seca e inundações, cada vez mais comuns em tempos de aquecimento global

Uma senhora vive em Bangladesh e vê suas galinhas morrer nas frequentes inundações dos últimos tempos. Cansada de só perder, decide criar patos. Gente que mora em vilarejos isolados de Moçambique e do Maláui, a milhares de quilômetros do sudoeste asiático, também desistiu do galinheiro e tem patos no quintal.

Não se trata de uma opção gastronômica. “Patos nadam”, lembra o argentino Pablo Suarez, pesquisador de clima e calamidades e um dos que observaram a ideia simples da senhora de Bangladesh e está ajudando a espalhá-la por outros cantos do mundo. Matéria de Daniela Chiaretti, Valor Econômico, 13/03/2009.

O que se vê em Bangladesh e em lugares carentes e remotos da África é um exemplo claro, fácil e prático do que, no jargão do aquecimento global, chama-se adaptação às mudanças climáticas. Trata-se de um debate ainda incipiente no Brasil, que tende a crescer rapidamente no mundo e vai agravar uma já complexa questão planetária – a água.

Suarez é diretor-associado de programas da Cruz Vermelha/Climate Centre, entidade que dispensa apresentações e, nos últimos anos, vê seu pessoal trabalhar dobrado. A culpa é do aquecimento global, que só faz piorar o sofrimento que vem com a pobreza. Mais gente fica doente, a comida é difícil, água potável pode ser rara e enchentes podem vir aos montes.

Há alguns meses, trabalhadores nas Ilhas Maurício começaram a faltar no emprego alegando dores no corpo. Os médicos locais não descobriam a razão do mal-estar. Não era gripe. “Era a ‘chikungunya’, uma doença transmitida por um mosquito que não existia em Maurício, mas na costa africana, sim”, conta Suarez. Como a temperatura na ilha paradisíaca do Oceano Índico vem esquentando, o inseto migrou e se deu bem. Chuvas fortes e repentinas ajudam o bicho a proliferar no novo hábitat. Temperaturas quentes e poças de água formam o mesmo mecanismo que espalha a dengue por aqui.

A ponta mais famosa do debate do aquecimento global no Brasil é a tal da “mitigação”. Mitigar é pensar formas de reduzir a emissão de gases de efeito estufa ora evitando o desmatamento ora discutindo opções energéticas que se desviem dos combustíveis fósseis. É diferente em outros lugares. Adaptação é uma preocupação muito forte em pequenas ilhas do sul da Ásia ou no Caribe que veem, impotentes, o mar subir e comer seu território.

Foi espantoso saber que uma das primeiras medidas do presidente do arquipélago das Maldivas assim que empossado, no fim de 2008, tratava de buscar terra firme para seu povo – na Austrália. A ilha de Ghoramara, na região do delta da baía de Bengala, na Índia, foi reduzida à metade em 25 anos. Mais de sete mil pessoas saíram de lá, engrossando a fila dos refugiados do clima (os que ficaram usam energia solar para tudo, até para assistir à televisão). A ilha vizinha, Lohachara, sumiu do mapa há 18 anos. Se mitigação focaliza energia, adaptação tem tudo a ver com água. É adequar-se à inevitável e já presente mudança do clima e conviver com ela da melhor forma possível ao mesmo tempo que se tenta mitigar o tamanho do problema no futuro.

O impacto da mudança do clima, como se sabe, é perverso: a temperatura do planeta já subiu e vai subir mais, as geleiras se derretem, o mar e os rios engrossam e aumentam de nível, mais e mais regiões da Terra são inundadas, há mais furacões e tormentas. Ou o seu oposto minimalista – chove menos, regiões ficam mais secas, alguns lugares viram desertos. O aquecimento da Terra agrava questões de água em todas as suas variantes – água em forma de gelo, água salgada, água doce dos rios, água da chuva, água que falta na torneira, água suja da inundação. O que acontecia no passado já não é um bom termômetro para o presente, e do futuro ninguém sabe.

Na China, recentemente, milhões de pessoas ficaram sem água. A Austrália acaba de sentir a pior seca dos últimos 50 anos. Londres teve de conviver com dias de caos provocados por uma supernevasca neste inverno. Uma placa de gelo imensa desprendeu-se há poucos dias da Antártida. O Peru perdeu 22% de suas geleiras em apenas 30 anos, e isso significa menos água correndo nos rios, menos volume disponível para agricultura e processos produtivos, ameaça até o turismo.

No Brasil, repetem os cientistas, o já combalido semiárido nordestino, o mais populoso entre as regiões semiáridas do mundo, é a próxima vítima. No famoso e polêmico projeto de transposição do rio São Francisco, a preocupação com aquecimento global ainda passa bem ao largo. Vai chover mais ou menos na cabeceira do rio? O que vai acontecer com sua vazão em alguns anos? As áreas de influência do São Francisco tendem a ficar mais secas ou inalteradas com a mudança do tempo?

Muitas dessas questões podem ainda não ter resposta porque a ciência desenha vários cenários climáticos que dependem de atitudes globais do presente. Mas os Países Baixos não ficaram esperando a resposta. Tomaram a dianteira e há anos tratam de preparar a Holanda para enfrentar o aumento do nível do mar. Londres, que igualmente teme a subida das águas, já tem seu plano de adaptação e mapeou os hospitais, aeroportos, estações de metrô, escolas e até unidades do Corpo de Bombeiros mais vulneráveis.

Na Espanha o debate é o lado B da questão ou: como lidar com a seca. Os espanhóis buscam formas de gerenciar a falta de água para se prevenir. Isso significa maior cuidado com o fornecimento e estocagem de água assim como reduzir o desperdício e o vazamento na rede, problema crônico das grandes cidades.

Água é o tema central, e clima o pano de fundo, de uma megarreunião que ocorre na semana que vem em Istambul, na Turquia. O 5º Fórum Mundial da Água é o principal evento internacional sobre o assunto e é realizado a cada três anos pelo World Water Council (WWC), uma espécie de organização não-governamental com sede em Marselha, na França, e de forte perfil empresarial.

O WWC foi fundado em 1996 por especialistas da área e hoje reúne no fórum múltiplas entidades da sociedade civil internacional e representantes de governos locais e federais. A primeira edição dessa conferência ocorreu no Marrocos, em 1997. Depois foi reeditada na Holanda, no Japão e no México. A versão turca baterá recorde de público – 22 mil pessoas e 25 chefes de Estado são esperados em Istambul. A ideia é garantir ao mundo alguma segurança no assunto mesmo se o fórum, ao contrário de conferências da ONU sobre clima, não tiver caráter deliberativo.

Há uma centena de palestras em pauta e agenda carregada de assuntos multilaterais. A temática ganhou tal importância nos últimos anos que vários países – africanos, principalmente – têm ministérios da Agricultura ou do Meio Ambiente e da Água. Madagáscar, no ano passado, criou um específico para gerenciar o uso de água para agricultura, indústria e transporte, eletricidade ou exportação – o país vende água para a Arábia Saudita.

“A discussão sobre pobreza é central para nós”, diz Fernando Coimbra, chefe da divisão do meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores, comentando o interesse no fórum da Turquia. “Olhamos para essa questão dos usos múltiplos da água sempre com a perspectiva de pensar como o recurso hídrico pode contribuir para o desenvolvimento sustentável.”

Em alguns pontos o mundo caminha melhor, em outros anda como caranguejo e nos críticos, de ré. “A lupa em Istambul estará sobre água e saneamento, o grande problema do mundo”, aposta Benedito Braga, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) e vice-diretor do World Water Council. “Os progressos no acesso à água dão certa esperança, mas em saneamento o desastre é grande”, avalia.

Quem trabalha com água sabe de cor e salteado certos números implacáveis que parecem estacionados no tempo: há 2 bilhões de pessoas sem saneamento básico e 5 mil crianças com menos de 5 anos morrem todos os dias em consequência disso. Dito de outra forma, dependendo de onde se nasce é quase impossível que se morra, ainda na infância, de diarreia; em outras partes, o destino é uma roleta-russa.

O carma de muita gente no século XXI é parecido ao de Londres da metade do século XIX, quando se morria às pencas também de tuberculose, tifo e cólera. Mas já em 1866 Londres reverteu o quadro e naquele ano a maior parte da capital inglesa já tinha rede de coleta e o esgoto era tratado antes de ser lançado ao Tâmisa. Em 2007, a revista “British Medical Journal” fez uma enquete com 11 mil de seus leitores no mundo perguntando qual era, segundo eles, o maior avanço da medicina desde 1840, lembra o jornalista britânico Alex Kirby, ex-correspondente ambiental da britânica BBC. “Escolheram saneamento”, recorda. “Para eles, ter água limpa e esgoto é muito mais importante que a invenção da anestesia.”

Já passou a metade do prazo para que os países cumpram os objetivos do milênio fixados pela Organização das Nações Unidas, e, se no quesito “acesso à água potável” o mundo está indo bem, no saneamento parece que será mesmo reprovado. “Nenhum país vai cumprir a meta, nem o Brasil”, opina Braga. “E esse é um ponto com implicações importantes na saúde pública, no gasto com hospitais, na mortalidade infantil.”

A ONU estabeleceu que em 2015 deverá ter se reduzido à metade o número de pessoas sem acesso a água e esgoto no planeta, tendo 1990 como ano-base. O exemplo brasileiro sintetiza o que ocorre internacionalmente. Em 1990, 83% da população brasileira tinha acesso a água de boa qualidade, um porcentual que bate em 90% atualmente. Temos vizinhos em melhor situação (em 2004, o México tinha 97%, a Argentina, 96%, e o Chile, 95%), mas o avanço brasileiro é inegável.

“Ocorre que há diferenças aqui no Brasil tanto em termos sociais como regionais em água e esgoto”, destaca o diretor do Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil, Giancarlo Summa. A parcela dos 20% mais pobres entre os brasileiros não tem água limpa saindo da torneira (muito menos saneamento), o que é um parâmetro infeior ao do Vietnã. “No sul e sudeste do Brasil tem água para todo mundo, mas no Polígono da Seca a carência é crônica”, situa Summa.

A canadense Maude Barlow, uma das mais famosas ativistas pelo direito à água limpa no mundo, e recentemente escolhida conselheira do presidente da Assembleia Geral da ONU, lembrou exatamente essa perversidade, em dezembro, na ONU. Segundo ela, mais crianças morrem por problemas relacionados à água do que em consequência de aids, guerras ou acidentes de trânsito juntos, um quadro que poderia ser superado se os pais tivessem acesso à água.

“Essa é a mais poderosa e importante face da desigualdade no mundo”, continuou Maude, autora e coautora de 16 livros sobre o assunto e fundadora do Blue Planet Project, ONG que tem por bandeira lutar pela definição de água como um direito humano e convencer a ONU a produzir uma convenção ou tratado internacional só sobre isso.

Esse ponto de vista aparece em cada evento do gênero, principalmente nos mais alternativos, e deve voltar na Turquia com um enfoque mais elaborado. A discussão, ali, tende a ser como implementar o direito pela água às pessoas. Há cinco anos o Uruguai votou um plebiscito inédito que, na sequência, deu origem a uma emenda constitucional definindo a água como um direito de todos os uruguaios e um serviço público que deve ser entregue à população sem que existam lucros na operação.

Na Colômbia e no México há movimentos nessa direção. “Agora se discutem os progressos, as desvantagens, o que precisa ser feito”, diz Ger Bergkamp, diretor-geral do WWC. “Não somos favoráveis a que empresas privadas sejam proprietárias das fontes de água, mas achamos que os governos devem decidir qual é o melhor sistema de entrega da água para suas nações”, explica. Mais de 90% dos sistemas são públicos na comunidade mundial. “A discussão da privatização é marginal ao que ocorre internacionalmente”, aponta. Em termos gerais, nesta edição do fórum a dimensão política, uma antiga demanda dos participantes, será fundamental, acredita o diretor do evento. “Como temos bem mais políticos participando, deve acontecer muita troca, e eles sairão de Istambul mais conscientes dos problemas e soluções. E com muito mais informação.”

O Brasil tem lugar de destaque na Turquia. “Temos 12% da água doce do mundo, o que não é uma coisa desprezível, pensando-se que esse é um recurso estratégico diante de todas as inseguranças que existem de abastecimento e no cenário de mudança climática”, diz Izabella Teixeira, secretária-executiva do Ministério do Meio Ambiente e chefe da delegação brasileira em Istambul.

“O foco central do fórum é a estratégia de adaptação da gestão da água em face da mudança do clima”, acredita o braço direito do ministro Carlos Minc. “A questão climática deixou de ser um delírio tropical e oferece outro patamar de discussão”, continua Izabella. E a crise econômica global? “Não existe uma única discussão sobre sustentabilidade econômica que fale da crise e não coloque a crise climática como condicionante. A mudança do clima não é mais vista como algo que restringe, mas como algo que condiciona o desenvolvimento.”

A transversalidade do aquecimento global na agenda da água é indicada também por Bergkamp, do WWC. “Fica mais difícil prever a demanda de água que teremos, a sua disponibilidade e qualidade em horizontes de 10 ou 15 anos”, registra.

Devem surgir, em Istambul, questionamentos atuais e de vanguarda. Izabella vai listando, de olho no Brasil: como, por exemplo, equacionar a demanda por água com geração de energia elétrica? Ou para onde expandir a agricultura se no cenário climático está previsto seca? Qual é a demanda de recursos hídricos para abastecer a pecuária brasileira? Qual é o impacto de recursos hídricos para irrigação? “O Brasil terá que lidar com suas vulnerabilidades hídricas, isso é um fato. Temos estudos para bancar essa visão inovadora”, promete.

Izabella participa de duas mesas-redondas, uma sobre combate à pobreza e outra de recursos hídricos para energia. “Temos um potencial hídrico tremendo que deve ser explorado a partir de novas oportunidades tecnológicas. Não queremos mais Balbinas”, diz a secretária-executiva do MMA, fazendo referência à usina no Amazonas que é considerada um equívoco histórico pela baixa energia que gera e o tamanho da área que alagou no meio da floresta. Izabella menciona o conceito de hidrelétricas-plataforma, que poderiam trazer para as usinas o mesmo sistema das plataformas de petróleo, sem que seja feita uma ligação por estrada entre a obra e a cidade mais próxima. “Só embarcam aqueles que trabalham na hidrelétrica, ficam 15 dias e retornam. Isso evita desmatamento”, diz.

O Brasil desperta certo interesse. Alguns querem desvendar como a Agência Nacional de Águas coordena os comitês de bacia, que chegam a 140 no Brasil. É um sistema participativo em que os três níveis de governo têm 40% das vagas no colegiado, mas os representantes dos usuários de água têm outros 40% e a sociedade civil, 20%.

O ineditismo da iniciativa brasileira é que aqui o governo é minoria. Esse sistema de gestão funciona particularmente bem na bacia do rio Piracicaba-Capivari-Jundiaí, perto de São Paulo e numa região altamente urbanizada. Há um grande número de municípios envolvidos e tratando seus esgotos, cobra-se pelo uso da água e um plano acertado entre todos define a qualidade da água ao longo do tempo. “O uso da água é mais eficiente, já não se desperdiça tanto. O que se faz ali é uma gestão fina”, diz Braga.

O exemplo do comitê do rio Piracicaba tem o aval também dos ambientalistas. “É um bom caso de construção de governança”, opina Samuel Barreto, coordenador do programa Água para a Vida do WWF-Brasil. A ONG internacional é das mais atuantes no tema água e estará em Istambul levantando tópicos mais modernos.

“A preocupação com as mudanças climáticas é fundamental. Uma das manifestações do fenômeno a gente percebe na água, tanto no excesso, como na falta. É só pensar em Santa Catarina, no ano passado, ou na seca que viveu o Rio Grande do Sul”, diz o biólogo com especialização em água doce. O WWF deve aproveitar o fórum na Turquia para divulgar mais o conceito da “pegada ecológica da água” (quantas dezenas de litros são necessários para produzir o hambúrguer, por exemplo) ou da água virtual (a água que existe em determinado produto, num quilo de uva, por exemplo).

Um eixo importante do evento é o que propõe a gestão compartilhada da água. “É uma perspectiva interessante porque entre Estados há conflitos e entre países, desafios”, menciona Barreto. “Rios não conhecem fronteiras políticas.” O que vem acontecendo no Mekong é um exemplo muito claro disso.

O Mekong nasce no Tibete e percorre seis países antes de desaguar no mar, no Vietnã. Até recentemente não tinha reservatórios. Mas a China, agora, está construindo ou planeja construir uma grande série deles e a vizinhança anda preocupada, conta o consultor ambiental Jeff Rutherford, que trabalha e vive em Chiang Mai, na Tailândia. O temor, com as barragens, é de mudanças dramáticas no volume e na qualidade da água do rio, pilar na vida de milhões de pessoas.

“O problema é que as barragens chinesas têm fama de culpadas pela maioria dos problemas de água que vem ocorrendo por ali”, continua Rutherford. “Se governos e empresários da região estão aumentando a sua dependência com a China e está crescendo a raiva que as pessoas dos países vizinhos têm dos chineses, há aí uma situação potencialmente explosiva.”

A origem de tal potencial hídrico para as barragens do Mekong esconde uma questão ainda mais delicada. O rio, assim como o Yangtse e o Amarelo, se alimenta das geleiras do planalto tibetano. É a “torre de água da Ásia” ou o “Terceiro Polo”, uma área imensa e alta onde, dizem, há mais água no gelo do que em qualquer outra parte além dos polos. Mas o gelo está derretendo com mais velocidade. O platô está aquecendo três vezes mais rápido que a média global e 82% das geleiras estão diminuindo.

“Isso terá consequências de longo prazo no fornecimento de água para mais de um bilhão de pessoas na Índia, China, Bangladesh, Camboja, Nepal e Vietnã”, alerta o biólogo Mike Shanahan, assessor do instituto britânico de ciência Iied. O uso da água em lugares onde os interesses são variados e, às vezes, opostos, pode desenhar áreas de potencial conflito.

Mas há notícias mais instigantes e animadoras. Para servir de inspiração: o pessoal dos vilarejos do Maláui não ficou só na troca de patos por galinhas (que, por sinal, custam três vezes mais no mercado local e garantem renda melhor para quem fez a mudança).

No vilarejo Mphunga, as pessoas introduziram em seus hábitos mais cinco atitudes novas, algumas bem simples. Passaram a colocar os grãos que produzem em sacos e não deixá-los mais no chão da cabana. Eles vivem em uma área onde as cheias são súbitas e cada vez mais frequentes – quando a inundação aparece, colocam o saco de milho, feijão ou arroz na cabeça e o levam até a igreja, o ponto mais alto da vila. “Assim não perdem mais o que produzem”, conta a gaúcha Fernanda Baumhardt, pesquisadora independente que esteve em Maláui durante dois meses, trabalhando com o centro climático da Cruz Vermelha.

Há também um sistema de alerta a enchentes que funciona com apitos e voluntários. Eles escutam se o rio sobe, monitoram a inundação pelo barulho da correnteza. Agora irrigam suas culturas com um aparelho engenhoso e modesto, que funciona a pedaladas e puxa a água do banhado mais próximo. Diversificaram o cultivo, antes calcado praticamente só no milho, para não correr o risco de perder tudo se o clima mudar e solo e cultura não se adaptarem.

Finalmente, passaram a plantar capim na beira dos rios num esforço para criar obstáculos às enchentes, além de cavar canais naturais de drenagem, relata Fernanda. Ela ajudou na produção de um documentário que conta a experiência dos moradores de Mphunga e que a Cruz Vermelha tem exibido em outros vilarejos nas mesmas condições, procurando estimular boas práticas que custam pouco, funcionam e não são mirabolantes. Quem sabe não exibem o documentário por aqui também?

[EcoDebate, 14/03/2009]

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