5o Fórum Mundial da Água (FMA): Água, uma crise também global
De 2 mil a 5 mil litros de água é a quantidade necessária para produzir alimento para o consumo diário de uma única pessoa. O dado, do Departamento de Meio Ambiente e Manejo de Recursos Naturais da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) torna-se ainda mais impressionante ao se considerar que a população mundial aumentará dos 6,5 bilhões atuais para mais de 9 bilhões de habitantes em 2050. E mais ainda sabendo que as mudanças do clima afetarão o regime de chuvas, a evaporação e o armazenamento de águas – portanto a produção agrícola, que consome 90% da água doce do mundo.
Segurança alimentar, geração de energia (hidrelétrica e biocombustíveis), desenvolvimento local, produção industrial, saneamento – uma criança morre a cada 19 segundos no mundo, vitimada pela falta de água limpa -, abastecimento de centros urbanos e conflitos territoriais são algumas das várias implicações do tema água. O assunto, com todos esses desdobramentos, será objeto de um grande encontro mundial na terceira semana de março. Por Amália Safatle, no Terra Magazine.
Delegações de mais de 150 países vão se reunir em Istambul, na Turquia no 5º Fórum Mundial da Água (www.worldwaterforum5.org), evento que é realizado a cada três anos desde 1997 pelo Conselho Mundial da Água (World Water Council), sediado em Marselha, na França.
Este ano, o tema será “Superando Divisores de Água”. Normalmente vista como uma questão local, a água será tratada como um assunto que transpassa limites geográficos, culturais e socioeconômicos.
“A globalização econômica gerou o conceito de água virtual. Países que têm pouca água importam alimentos e, dessa maneira, também importam água e isso traz impactos para quem produz os alimentos”, afirma Benedito Braga, diretor da Agência Nacional das Águas e vice-presidente do Conselho Mundial da Água, que organiza o encontro ao lado do governo da Turquia.
Com as mudanças climáticas, áreas que já vêm sendo afetadas pela escassez de água tendem a sofrer com secas mais frequentes. Grandes bacias hidrográficas, incluindo importantes áreas produtoras de alimentos na região do Rio Colorado, nos Estados Unidos, do Rio Indo, no Sul da Ásia, do Rio Amarelo, na China, do Rio Jordão, no Oriente Médio, do Delta do Nilo, na África e do Rio Murray, na Austrália, estão “fechadas”, ou seja, impossibilitadas de terem suas águas utilizadas, informa o Conselho Mundial.
Recente reportagem publicada no The New York Times, por exemplo, expôs a gravidade da situação da China, onde locais destinados à produção agrícola estão secando. A conseqüência são demandas crescentes pelos alimentos produzidos em outros países. Uma situação que pode até ser benéfica aos países exportadores, mas pode ser altamente prejudicial se a gestão da água na produção agrícola não for feita de maneira sustentável.
A ideia é que o Fórum reúna e encaminhe contribuições para a solução da crise mundial da água a outras instâncias internacionais de negociação, como o G-8, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU e o Painel da Convenção das Mudanças Climáticas da ONU. São esperadas mais de 20 mil pessoas no evento.
Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.
Fale com Amália Safatle: amalia_s{at}terra.com.br
* Publicado no Terra Magazine, Quinta, 5 de março de 2009, 08h03
** Enviada por Edinilson Takara, leitor e colaborador do EcoDebate
[EcoDebate, 06/03/2009]
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