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Malásia: sedimentação de rio, devido ao desmatamento, origina graves enchentes em Sarawak

As fortes enxurradas que começaram a cair no dia 14 de janeiro e continuaram por quase um mês no estado de Sarawak no leste da Malásia assolaram especialmente as regiões norte e central.

Milhares de pessoas evacuadas, comestíveis básicos aerotransportados até as moradias comunitárias, toneladas de material de ajuda para emergências, fechamento de escolas primárias, desmoronamentos, lavouras destruídas constituem o saldo de uma devastadora enchente sem precedentes que assolou principalmente a área rural de Sarawak. Os arrozais estavam maduros quando a chuva começou. No final, as lavouras ficaram completamente destruídas pela enchente. Conforme um artigo no The Borneo Post do dia 11 de fevereiro de 2009, comunidades indígenas de várias moradias comunitárias na região do rio Baram tiveram quase toda sua colheita perdida. (1)

Enquanto os padrões da mudança climática podem ser convenientemente culpados pela devastação (a culpa é de todos- ninguém é o culpado), mais de vinte anos de políticas florestais que favorecem o esgotamento em larga escala dos frágeis ecossistemas de florestas tropicais que visam um lucro no curto prazo (aliás, na curta visão de futuro) conformam a principal causa subjacente que alguns estão atualmente pondo na berlinda.

Como lembra a organização Bruno Manser Fonds, “Apesar das advertências dos ambientalistas e dos cientistas internacionais, menos de 10 por cento das florestas primárias de Sarawak têm sido poupadas da exploração madeireira sem dar a devida importância aos efeitos ambientais, sociais e econômicos no longo prazo decorrentes da exploração madeireira.”

Um advogado de Kuching, uma das províncias assoladas pelas enchentes, escreveu em seu blog (http://voonleeshan.blogspot.com/2009/01/2009-floods-in-kuching.html) que a maior parte das causas das enchentes em Kuching e outras áreas adjacentes tinham sido criadas através de políticas do governo de plantão. E ele pergunta: “Por que cortaram as árvores e clarearam as florestas se as árvores poderiam ajudar a mitigar as inundações ao absorverem as águas das chuvas fortes? Por que o corte de árvores e o desmatamento das florestas foi permitido para o benefício de poucos, mesmo sem o adequado reflorestamento ou manejo florestal? Não foi isso o que contribuiu para as erosões e a sedimentação do leito do rio Sarawak? E portanto, não foi essa sedimentação a que causou que os rios se tornassem pouco profundos? Não foi a falta de profundeza dos rios a que causou que a água das chuvas viesse à tona rapidamente e transbordassem as margens dos rios inundando granjas, lojas e moradias?”

A sedimentação vinculada com o desmatamento também provocou a morte maciça de peixes. A esse respeito, o blog Digest on Malaysian News informou que, “centenas de peixes saíram à superfície no Batang Rajang [rio] alguns à procura de ar, alguns já sem vida. Também houve vários relatos desse tipo de incidentes em Belaga e Kapit desde finais do ano passado que causaram grande preocupação aos moradores do local. O Conselho do Meio Ambiente e os Recursos Naturais (NREB, sigla em inglês) concluiu que os peixes tinham morrido de fato por afogamento e não por envenenamento. A causa desse incidente é muito singela. O rio Rajang se tornou raso demais em decorrência da alta sedimentação. A sedimentação foi causada por um descontrolado desmatamento de grandes proporções na região do rio acima.”

Conforme a mesma fonte, “Todos nós sabemos que a erosão é decorrente da exploração madeireira descontrolada no Alto Batang Rajang. Os culpados (que por acaso estão associados a Taib Mahmud, o Primeiro Ministro de Sarawak) são as empresas madeireiras. Eles violaram a floresta virgem de Sarawak com um maciço desmatamento que resultou em erosão e sedimentação maciços e que, afinal, fizeram com que o Batang Rajang fosse propenso a inundar-se (afetando gravemente a cidade de Sibu) e a dificultar a navegação devido à escassa profundidade do rio. E agora, os peixes estão agonizando.”

Os enormes lucros da exploração madeireira foram parar nas mãos de um punhado de empresas e nos bolsos de alguns poderosos, muitos dos quais se opuseram ativamente à exploração madeireira em seus territórios.

(1) “Rural Sarawak suffers flood consequences”, comunicado de imprensa de Bruno Manser Fonds, 17 de fevereiro de 2009, www.bmf.ch, info@bmf.ch
(2) “Siltation killed fish at Batang Rajang”, Digest on Malaysian News (http://malaysiadigest.blogspot.com/2009/02/siltation-killed-fish-at-batang-rajang.html)

Outras fontes: vários artigos do website malásio The Star Online, http://thestar.com.my

Boletim número 139 do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais

Boletim Mensal do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
Este boletim também está disponível em francês, espanhol e inglês
Editor: Ricardo Carrere

Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
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[EcoDebate, 02/03/2009]

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