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O etanol de milho enfrenta a sua primeira grande crise

etanol de milho

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate] Entre meados de 2007 e 2008 o petróleo manteve um preço médio de US$ 80 o barril, chegando a superar a marca de US$ 140 o barril. Diante destes valores e com pesados subsídios a produção de etanol de milho cresceu mais de 14% em relação a 2007, alcançando 28 bilhões de litros.

Mas o preço do petróleo era meramente especulativo e, com a crise das bolsas, já em outubro de 2008 caiu para US$ 84 o barril, mantendo a queda até atingir US$ 44 o barril, em 16/2/2009.

Com a queda do preço do petróleo, a demanda pelo etanol de milho caiu pela metade e o preço desabou, com dezenas de usinas ‘suspendendo’ a produção, iniciando a primeira grande crise do etanol de milho.

A crise ‘apresentou’ um problema há muito conhecido no Brasil, a de que um agrocombustível é um produto agrícola antes de ser um combustível.

Em qualquer lutar e circunstância os agrocombustíveis precisam ser compreendidos e gerenciados como realmente são: produtos agrícolas.

Isto significa implantar um correto e rigoroso zoneamento agrícola, preço mínimo, estoques reguladores, seguro de safra, financiamento racional, logística de produção, armazenamento e distribuição, etc.

A crise, nos EUA, também expõe alguns erros de decisão que podem causar sérios impactos econômicos e sociais.

O primeiro é a crença de que um mercado deve se autoregular. A tese já havia sido desmoralizada na crise especulativa das bolsas, mas agora atinge dois mercados ao mesmo tempo, o agrícola e o de combustíveis.

Em segundo, foi a ‘flexibilização’ do centenário zoneamento agrícola, o que permitiu a expansão da área cultivada de milho, sob forma de monocultura intensiva em grandes regiões.

A terceira, e mais complicada, foi a autorização ‘excepcional’ do plantio de uma variedade transgênica de milho apenas para produção de etanol. Este milho transgênico não foi aprovado para consumo humano ou animal, sendo seu uso formalmente restrito para produção de etanol. Aqui a crise fica em uma situação sem solução possível.

As usinas suspenderam temporariamente a produção, deixando de comprar grandes estoques de milho. E os produtores que colheram um milho que não pode ser destinado ao consumo humano ou animal vão fazer o que com ele?

Em um primeiro momento, surgiu a proposta de enviar este milho para silagem, mas isto não é possível porque não existem silos específicos para este milho, e destina-lo aos silos comuns de milho traria um grave risco de contaminação. A idéia, portanto, foi abandonada e, aparentemente, não há o que fazer com este milho transgênico.

Felizmente esta crise começou poucos dias depois da FDA ter autorizado a expansão da área plantada deste milho transgênico para mais 4 milhões de hectares. A própria crise impediu a expansão desta área plantada, o que teria iniciado uma crise ainda maior.

A opção pelo agrocombustível E85 também criou um novo problema, o desabastecimento. O conceito de combustível mistura foi adotado no Brasil para a gasolina (a brasileirinha) com algo em torno de 80% de gasolina e 20% de etanol.

Mas, por outro lado, adotamos a tecnologia flex, que permite a mistura de etanol e gasolina em qualquer proporção.

Não é o caso do E85, com configuração fixa de 85% de etanol e 15% de gasolina. Com a redução da produção do etanol de milho aumenta, proporcionalmente, o risco de desabastecimento. É o que já está acontecendo em algumas regiões do centro-oeste dos EUA.

As autoridades e dirigentes do setor insistem que é uma crise de momento, passageira e que logo o mercado se estabilizará.

É provável que seja verdade, mas o que farão os produtores enquanto isto? E os usuários de veículos E85?

Os agrocombustíveis, quaisquer que sejam, não são uma panacéia, nem ambiental nem econômica.

Fica a lição, de que é muito mais simples dirigir toda a cadeia produtiva do petróleo do que a cadeia produtiva de um agrocombustível.

[EcoDebate, 18/02/2009]

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One thought on “O etanol de milho enfrenta a sua primeira grande crise

  • Gostei dos artigos, estas possibilidades apontadas, nos mostram o quanto estavamos certos quando trabalhamos nos projetos do INT/Petrobrás durante 6 anos e meio.

    Muitas possibilidades ainda existem de melhorar a produtividade e explorar outras fontes de materias primas.Quero parabenizar a todos os participantes da execução deste Site, esclarecendo a opinião dos nossos dirigentes e dos Engenheiros e Economistas que trabalham na área.

    Marco A. Léo
    Eng.Mecânico MSc

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