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Notícia

Cuidar dos dentes previne enfarte

Confirmando o jargão “a saúde começa pela boca”, médicos listam benefícios da boa escovação

Em mais um capítulo da série “descobertas da ciência”, eis agora algumas constatações que vão deixar as mães do mundo cheias de argumento. Pesquisadores alertam: escovar os dentes não apenas deixa o hálito fresco e o sorriso bonito, como também protege contra a diabetes e ataques cardíacos.

Na boca, há mais de 600 espécies diferentes de bactérias, entre as quais metade ainda não foi classificada. Cada mililitro de saliva contém 100 milhões destes microorganismos. Se não forem combatidas, as toxinas destes seres entram nos vasos sanguíneos e se espalham, causando uma inflamação sistêmica. Além disso, o corpo humano se ocupa de combater aquela infecção local e se “esquece” das outras. Essa é uma das razões para o fato de ao fazer higiene bucal, a pessoa estar na verdade cuidando de todo o seu organismo. Matéria de Cristine Gerk, do Jornal do Brasil.

– A doença periodontal é caracterizada por uma placa bacteriana no interior do suco gengival, que agride o tecido. As células brancas tentam fagocitar os microorganismos e os seus dejetos, como endol, aminas tóxicas ou amônia. Ao fagocitar esse elementos, os glóbulos brancos também liberam essas citocinas pró-inflamatórias, entre elas uma que provoca o aumento da resistência insulínica e reduz a condição de controle glicêmico. Ou seja, não escovar os dentes também causa diabetes – resumiu Eduardo Saba Chujfi, especializado em periodontia pela faculdade de odontologia da Universidade de São Paulo, em palestra patrocinada pela Colgate durante o 27º Congresso Internacional de Odontologia, em São Paulo.

Cerca de 79% dos brasileiros já desenvolveram doença periodontal – inflamação que atinge a gengiva, o osso que a sustenta e o ligamento entre o osso e o dente. O mal pode levar à lesão irreversível do tecido de suporte e à perda dos dentes. Segundo os médicos, a obesidade e o sedentarismo são mais frequentes em quem não tem boa higiene bucal.

Para os cientistas reunidos no congresso, o tratamento periodontal deve fazer parte do cuidado padrão de pacientes diabéticos. Muitos não vão ao médico, mas não perdem a visita ao dentista. De 27% a 53% dos que vão a um consultório dentário têm diabetes não-diagnosticada.

– A doença periodontal deveria ser considerada a sexta complicação do diabetes, mas os médicos não falam sobre isso. O próprio Ministério da Saúde aconselha os médicos que tratam de pacientes diabéticos a terem atenção aos seus dentes. Os dentistas também precisam ter conhecimento básico sobre diabetes e fazer bons exames, como parte de uma equipe multiprofissional de tratamento do paciente. É importante inclusive que o dentista tenha um glicosímetro no consultório e encaminhe o paciente para um endocrinologista se for o caso – diz Giuseppe Alexandre Romito , presidente da Sociedade Brasileira de Periodontologia e professor de periodontia da USP.

Falta de hábito

No Brasil, a higiene bucal não é um hábito e os hospitais não costumam ter uma equipe de dentistas sempre à disposição.

– O indivíduo que tem a artéria entupida na perna pode ter também no cérebro, no coração. Os fatores de risco são sempre os mesmos: obesidade, fumo, diabetes, colesterol alto, hipertensão. O colesterol vai para baixo da camada da artéria, formando um coágulo. O processo inflamatório cardíaco e periodontal é o mesmo – ressalta Bruno Caramelli, cardiologista professor da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo e diretor da Unidade de Medicina Interdisciplinar do InCor. – Todo processo inflamatório crônico gera uma inflamação crônica que pode aumentar a espessura da carótida, elevando o risco de enfarte. Controlando isso, o quadro geral melhora. Ou seja, controlando a inflamação na gengiva, por exemplo, todo o corpo reage melhor.

Segundo Caramelli, cuidar da gengiva inibe as citocinas pró-inflamatórias – quanto mais inflamação, mais resistência à insulina e maior a glicemia. O indivíduo diabético com inflamação acaba deixando a diabetes descontrolada.

– A proteína C-reativa (PCR) é produzida sempre em resposta a uma agressão e funciona no corpo como um marcador do estresse inflamatório. Quem tem periodontite grave tem PCR alta, assim como os com alto risco de enfarte ou derrame – acrescenta o médico. – Em grupos que receberam tratamentos periodontais, há uma redução de 13 a 17% na hemoglobina glicada, que é um dos principais marcadores do diabetes.

O tumor oral é a causa mais comum do câncer, 90% das pessoas do mundo tem cáries e de 5% a 15% têm periodontite grave. Cáries e gengivites são as doenças infecciosas mais comuns nos humanos e são causadas por modificações da flora presente normalmente na boca.

Segundo a Organização Mundial de saúde, a saúde oral deve ser prerrogativa de todos os médicos. Um terço das causas de morte no Brasil são por males cardíacos, o enfarte é a primeira causa de morte em todos os países.

– Enquanto não compreendermos todas as causas da doença cardiovascular, não deixaremos de morrer em primeiro lugar por isso – destaca Caramelli.

* Matéria do Jornal do Brasil, Ciência e Tecnologia, no JB Online, 15 de julho de 2009 : 01h00m

* Enviada por Edinilson Takara, leitor e colaborador do EcoDebate

[EcoDebate, 17/02/2009]

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