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Exploração de urânio no mundo debatida em Nisa, Portugal

A palestra foi organizada pelo “MUNN – Movimento Urânio em Nisa Não”, movimento que congrega diversas entidades que se opõem à possível exploração de urânio neste concelho.

O casal Márcia Gomes (socióloga e professora) e Norbert Suchanek (jornalista) trabalham no Brasil e aproveitaram um período de férias para viajar pela Europa e começarem a fazerem um documentário sobre o urânio em Nisa.

Apresentaram o filme documentário “Uranium thirst“. Thirst significa sede, e alude à grande quantidade de água que é necessária para a exploração do urânio. A extracção e purificação do urânio é pois sedenta de quantidades colossais de água. O urânio, mineral radioactivo, serve depois de combustível nuclear em centrais ou em armas atómicas. O documentário foi filmado no ano passado na Namíbia. A Namíbia, país situado entre a África do Sul e Angola, tem a maior mina de urânio do mundo. A mina a céu aberto fica situada numa zona muito árida, num deserto em que existe um rio subterrâneo sobre o qual existem árvores. A extracção e purificação de urânio consomem muita água, numa zona onde ela é escassa. No documentário mostram-se os problemas ambientais que daí resultam.

O casal participou num encontro mundial na Namíbia sobre a extracção de urânio. Foi nessa ocasião que filmaram o documentário. Percorreram com elementos de uma Organização Não-Governamental de Ambiente da Namíbia várias aldeias, esclarecendo os perigos da exploração do urânio: para obter 1 kg de urânio produzem-se 250 kg de resíduos radioactivos. Esses resíduos ficam junto da mina. Posteriormente podem ser espalhados pelo vento para os campos em redor, ou podem ser escoados pela chuva para os rios ou infiltrarem-se no solo para os lençóis freáticos. A radioactividade entra nos ecossistemas, contaminando também os seres humanos. São por isso frequentes doenças como o cancro entre os trabalhadores e outros habitantes dessas regiões.

Durante o debate com o público presente falou-se da situação noutros países do mundo. Há projectos de exploração em países como a Tanzânia, Moçambique, Angola e Botswana.

Referiram que os defensores das centrais nucleares dizem que o nuclear é uma energia limpa, mas nunca falam a verdade sobre a indústria extractiva do urânio. «As pessoas não associam o funcionamento das centrais nucleares com a ex-tracção e purificação do urânio» referiu Márcia Gomes.

Referiram que no Brasil o nuclear foi um assunto militar durante a ditadura. Informaram que a primeira mina a ser explorada nos anos 60 foi a de Poços de Caldas, no Estado de Minas Gerais. É uma região com águas termais, o que é uma coincidência com Nisa. Está desde 1995 em estudo o processo de encerramento da mina, mas ainda não se tem nenhuma conclusão.

Durante a ditadura foram identificadas na Amazónia zonas com potencial de exploração, e quando se fez a demarcação das áreas indígenas, estas estão a 5 cm das possíveis áreas de mineração.

Referiu-se que os australianos ficaram admirados como é que se fazia a exploração de urânio na Namíbia, pois os custos de exploração não seriam comportáveis na Austrália. A explicação é que o custo dos trabalhadores vale pouco, o governo pede pouco e o próprio governo dá a água necessária à mineração.

Exploração de urânio em Portugal

No debate falou-se também da situação em Portugal e em Nisa. Referiu-se que o Estado ainda só tapou um grande buraco de uma mina junto de Canas de Senhorim e o custo foi de 6,2 milhões de euros. Todos os outros, de 61 minas, ainda estão por tapar. Tendo em conta que em Nisa se poderia obter 75 milhões de euros, de que só dois milhões ficariam em Nisa, e que haveria no mínimo três buracos a tapar, constatou-se que nem do ponto de vista económico seria viável. Os custos inerentes a uma reabilitação credível seriam superiores aos benefícios. Por outro lado os problemas ambientais e para a saúde seriam incomportáveis para um desenvolvimento sustentável da região.

Concluiu-se que enquanto houver urânio em Nisa, haverá uma batalha, e que esta vai durar muitos anos. Os presentes na assistência pautaram as suas intervenções por uma oposição à instalação de uma industria de extracção de urânio no concelho, tendo ficado claro que, caso o Executivo decida avançar, haverá uma onda de contestação popular.

*Matéria do jornal online Fonte Nova, Portugal

* Enviada por Norbert Suchanek, colaborador e articulista do EcoDebate

[EcoDebate, 10/02/2009]

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