Brasileiros se dizem preocupados com ambiente, mas poucos agem
Praticamente todos os brasileiros se preocupam com o aquecimento global e gostariam de tomar medidas para combatê-lo. Mas apenas uma pequena parcela tomou alguma atitude no último ano para utilizar fontes de energia e combustível mais limpas. É o que revela uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria empresarial Accenture que entrevistou 10.733 pessoas em 22 países. A reportagem é de Alexandre Gonçalves e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 21-01-2009 (vejam, também, nota do EcoDebate).
Participaram do estudo 503 brasileiros que residem no País. A amostra reflete a estrutura etária, de renda e de proporção entre os sexos no País.
Cerca de 96% afirmaram estar preocupados com o aquecimento global. O mesmo porcentual acredita que a mudança climática terá algum impacto na sua vida pessoal. O grau de conscientização do brasileiro é maior do que a média dos países avaliados: no resultado geral da pesquisa, 86% dos entrevistados se dizem preocupados com o aquecimento e 83% esperam impactos na sua vida diária.
Mas nem sempre as intenções são traduzidas em ações. Na edição de 2007 da pesquisa, 99% dos entrevistados brasileiros afirmaram estar dispostos a adotar fontes de energia ou combustível mais limpas, como álcool, biodiesel, gás natural ou aquecedores solares. Contudo, na edição deste ano, só 13% relataram ter optado por uma fonte limpa nos últimos 12 meses.
Para Marcelo Gil de Souza, da Accenture na América Latina, as empresas ainda precisam reconhecer a oportunidade latente no mercado de produtos sustentáveis. “Há uma classe de consumidores emergente no País”, afirma Souza. “Entraram na economia há pouco tempo e ainda estão delineando suas preferências de consumo: a pesquisa mostra que se preocupam com o ambiente.” Ele recorda que na Europa as pessoas pagam um pouco mais caro para receber energia elétrica de fonte eólica – limpa e renovável – em suas casas.
IMPACTO SOCIAL
Segunda a pesquisa, cerca de 98% dos consumidores brasileiros entrevistados estariam dispostos a trocar um produto convencional por outro semelhante, mas com certificado de menor impacto no clima.
O diretor presidente do Instituto Akatu, Hélio Mattar, também considera que há dificuldades práticas para o consumidor adotar um comportamento responsável do ponto de vista ecológico. Mas recorda que nem todas as medidas de consumo consciente recebem a mesma adesão. “Fechar bem as torneiras ou desligar as luzes são práticas comuns para muitos brasileiros, pois têm um impacto direto nas contas de água ou energia”, exemplifica Mattar. “Mas comprar um carro menos poluente exige planejamento e o benefício não é tão direto para o consumidor. Ele precisa pensar no impacto social.”
Os dados mundiais da pesquisa confirmam a percepção de Mattar. Cerca de 82% dos entrevistados admitiram que adotariam medidas concretas para combater as mudanças climáticas se percebessem que um comportamento pouco sustentável leva a um aumento no custo de vida.
Nota do EcoDebate: a pesquisa apenas reafirma conclusões de várias pesquisas anteriores que demonstravam a atitude meramente discursiva da maioria das pessoas.
Se forem realizadas pesquisas sobre outros temas sociais e ambientais, certamente, veremos que os brasileiros se preocupam com o racismo, com o trabalho infantil, com o trabalho degradante/escravo, com o desmatamento ilegal na Amazônia, com a contaminação de alimentos por agrotóxicos, antibióticos, transgênicos, etc.
Uma pesquisa do instituto Datafolha , de nov/2008, identificou que 93% dos entrevistados reconheciam que existia racismo no Brasil, mas apenas 3% declararam seu preconceito contra negros. Ou seja, apenas os outros são racistas…
Esta permanente ambiguidade é uma idiossincrasia nacional, permitindo que o duplo discurso não seja questionado.
Até mesmo os governos se aproveitam desta ambiguidade aceita para dizer uma coisa e fazer outra, sem qualquer crítica ou perda de popularidade. Além do mais, é sempre muito mais fácil falar do que fazer.
Pode ser uma atitude simples, fácil e conveniente, mas ela é paralisante, evitando que um outro Brasil seja possível e que as mudanças sejam efetuadas.
Nada muda a nossa volta simplesmente porque somos incapazes de reconhecer a necessidade da mudança. Somos incapazes de reconhecer a necessidade da nossa própria mudança.
Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate
(Ecodebate, 23/01/2009) publicado pelo IHU On-line, 21/01/2009 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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