Demanda por orgânicos é maior do que a oferta, diz produtora rural
Taguatinga (DF) – Pioneira na agricultura orgânica no Distrito Federal, a produtora rural Massae Watanabe afirma que nos últimos anos a procura por alimentos produzidos sem agrotóxicos aumentou significativamente Foto: Antônio Cruz/ABr
A demanda por produtos cultivados sem uso de produtos químicos é cada vez maior, afirmam agricultores que aderiram à utilização de técnicas orgânicas de controle às pragas em suas lavouras.
Pioneira na agricultura orgânica no Distrito Federal, a produtora rural Massae Watanabe conta que nos últimos anos a procura por alimentos produzidos sem agrotóxicos aumentou significativamente.
“É preciso chegar de manhã cedo [à feira onde a produção é comercializada] para conseguir comprar as frutas e verduras frescas que plantamos, pois tudo é vendido muito rápido.”
A agricultora conta que desde o ano passado tem crescido o número de produtores de orgânicos certificados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No entanto, a procura continua maior que a oferta. “Tem cliente que briga quando não tem o produto que deseja. Tem gente que não entende que a chuva e outros diversos outros fatores complicam a produção da gente, já que não usamos agrotóxicos.”
A preocupação com a saúde e a preservação do meio ambiente foi um dos motivos que levaram Massae a trocar a agricultura convencional pelas técnicas relacionadas à produção orgânica. Inicialmente, ela suspendeu o uso de agrotóxicos de suas plantações. O resultado agradou a Massae de tal maneira que, em 2001, a produtora ajudou a fundar o Mercado Orgânico, uma das maiores associações de agricultores orgânicos da região.
Aos poucos, a propriedade rural dela aderiu a outras técnicas de controle biológico. Um dos métodos que Massae adota para combater pragas e outros inimigos da lavoura sem recorrer a defensores químicos é cultivar também plantas com cheiro e cores atrativas. “Elas chamam a atenção das pragas, livrando as hortaliças dos predadores”, explica.
A combinação de culturas é outro ponto destacado por Massae, que produz quase 30 tipos de itens, entre hortaliças e frutas. A produção rende de três a sete toneladas mensais. “Utilizo o manejo integrado de forma a criar um ambiente equilibrado. À medida que vamos investindo nesse processo, vemos o equilíbrio do sistema e isso reflete no controle da pragas e doenças”, conta a agricultora.
Todos esses cuidados fazem com que o valor dos orgânicos seja um pouco mais elevado do que o dos produtos cultivados em lavouras com métodos convencionais, segundo Massae. “O preço é superior ao do convencional, para manter os custos de produção e também para remunerar o produtor. É também um custo social. O consumidor deve ter a compreensão do que seja um processo dessa natureza.”
Segundo o produtor orgânico Joe Valle, essa diferença de preços também resulta da falta de pesquisas e tecnologias voltadas à produção de alimentos orgânicos, que leva a um aumento na contratação de mão-de-obra. “Temos 70 empregados, quatro vezes mais do que o número em uma propriedade que lida com a agricultura convencional”, aponta Valle, dono da Fazenda Malunga, também localizada no Distrito Federal.
Mas, para ele, o preço alto não intimida os consumidores, que estão mais preocupados com a qualidade da alimentação. “O mercado de orgânicos está crescendo muito, a demanda está grande e as pessoas estão mais preocupadas com a saúde alimentar.”
A fazenda produz 150 toneladas de orgânicos por mês, em uma área de 120 hectares. Além de cultivar 40 variedades de hortaliças, a propriedade investe na criação diferenciada de gado. O rebanho é tratado apenas com remédios homeopáticos e é alimentado em pasto orgânico. “A gente diz que a produção orgânica é feita em um tripé: é economicamente viável, ecologicamente correta e socialmente justa”, conclui Joe Valle.
* Matéria da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 13/01/2009.
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