Industrialização selvagem no Vietnam contamina os rios com resíduos tóxicos
[Wild industrialization in Vietnam contaminates the rivers with toxic waste]
Vastas extensões de rios, que já tiveram peixes e camarões, foram transformadas em zonas mortas. Foto GTZ
Os rios do Vietnam estão cheios de perigo. Ainda que as águas pareçam calmas, elas podem até corroer as solas de sapatos e, de acordo com algumas empresas de transportes, inclusive o casco de um navio.
Anos de crescimento industrial sem controle fazem com que milhares de pequenas e grandes indústrias despejem resíduos tóxicos e cancerígenos no meio ambiente todos os dias. Vastas extensões de rios, que já tiveram peixes e camarões, foram transformadas em zonas mortas. Esses mesmos rios alimentam os sistemas hídricos que fornecem a água potável para milhões de pessoas. Por Henrique Cortez*, do EcoDebate.
“Quase todos aqueles que vivem aqui tem uma doença respiratória ou intestinal”, diz Le Thi Nung, 49, cuja família ganhava a vida com a pesca e aqüicultura no rio Thi, na zona sul da província Dong Nai. “Estamos tão miseráveis e vivemos nesse ambiente poluído. As fábricas que vieram para cá não trouxeram quaisquer benefícios a todos nós, só os resíduos e a poluição.”
As pessoas que vivem ao longo dessas vias navegáveis mas tóxicas, se queixaram no passado e, ocasionalmente, algumas fábricas tiveram foram fechadas. Mas as empresas sabem que é muito mais barato despejar resíduos do que trata-los.
Ainda nas últimas semanas, em um movimento sem precedentes, o governo já começou a combater alguns dos piores poluidores.
No início de outubro, policiais ambientais fecharam um curtume de couro, que liberava resíduos em um rio, que flui através da cidade de Ho Chi Minh. Várias empresas produtoras de amido, que podem liberar cianeto durante o processamento, foram fechadas. A ação policial também encontrou um fabricante de glutamato monossódico, na região sul da província Dong Nai, que despejou resíduos, através de tubulações escondidas, durante anos, matando um trecho de 15 quilômetros do rio Vai Thi.
Foto: Martha Ann Overland / Reuters. Lavar legumes no lago poluído Hanói. Crescimento primeiro, segundo ambiente
Por mais de uma década, a produção industrial do Vietnam tem crescido velozmente, com a redução da pobreza, a força impulsionadora. Preocupações com o meio ambiente tem tido secundárias, disse Doan Canh, professor de estudos ambientais no Instituto de Biologia Tropical, na cidade de Ho Chi Minh.
“O rio vai Thi está quase morto”, diz Canh, referindo-se a um dos rios mais poluídos no Sul do Vietnam. “Nenhuma criatura pode viver nessas águas poluídas. E as agências estatais deixaram que essas violações continuassem por mais de 10 anos.”
O Vietnã carece de sistemas de tratamento de água. Não só nas fábricas, mas ainda falta tratamento de resíduos hospitalares.
“A maior parte das águas descarregadas a partir de hospitais de Hanói deságua diretamente no esgotos sem tratamento”, afirma Nguyen Dang Binh, vice-diretor do Departamento dos Recursos Naturais e Ambiente de Hanói.
Na cidade de Ho Chi Minh, 39 instalações médicas/hospitalares não têm tratamento de resíduos, a que título for.
Apesar das leis de proteção ambiental que os obrigam, são poucos os parques industriais possuem instalações de tratamento de água. Apesar do governo reconhecer, no início de outubro, que a situação é séria, há poucos indícios de que as atividades dos piores poluidores tenham sido interrompidas.
Vedan Vietnam, fabricante acusada de matar uma grande faixa do rio Thi Vai, só foi multada em US$ 16 mil e condenada a pagar US$7,65 milhões em encargos ambientais devidos. Apesar dos protestos locais, a fábrica ainda está em atividade. O curtume de couro na cidade de Ho Chi Minh foi condenada a fechar, mas também ele ainda está funcionando normalmente.
Como em muitos outros países em desenvolvimento as empresas (de)predadoras acham mais lucrativo enfrentar as multas do que investir em responsabilidade ambiental. Inclusive porque sabem que as multas podem ser judicialmente questionadas, em processos que podem durar muitos anos.
* Com informações da IRIN (Integrated Regional Information Networks).
[EcoDebate, 30/10/2008]
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