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Campina Grande sedia encontro sobre estudos rurais no Brasil, artigo de Rogério Almeida

[EcoDebate] Campina Grande, Paraíba, é conhecida como capital do forró, mas entre os dias 09 a 12 de setembro tornou-se a capital do debate sobre as questões que afetam o mundo rural brasileiro, por ocasião do 3º Encontro da Rede de Estudos Rurais, organizado pelo programa de pós-graduação de Ciências Sociais, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A reunião tem o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), IICA e do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento (NEAD).

Os debates sobre as temáticas rurais do Brasil estão sendo realizados em sete grupos de trabalhos e em quatro mesas que contemplam inquietações que perpassam a luta pela terra, movimentos sociais, processos produtivos, território, pluriatividade e estratégias de produção, ação coletiva, projetos de assentamento, políticas públicas e o agronegócio.

A mesa da tarde do dia 10 lançou luzes sobre a reconfiguração do espaço rural impulsionado a partir do agronegócio em várias partes do país. Um dos debatedores, o professor Sérgio Pereira Leite, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) apresentou dados preliminares de pesquisa realizada em várias regiões. O professor concentra os estudos no Mato Grosso (BR -163), Minas Gerais, Bahia e oeste do Pará.

As análises do professor antes de sinalizarem sobre as alterações induzidas pelo modelo de produção baseado em vastas extensões de terras e monoculturas, indica o grande interesse que a temática tem vivenciado no mundo acadêmico. Em particular as ciências humanas aplicadas, economia e administração.

A concentração e elevação do preço da terra, avanço sobre territórios consolidados como as reservas de proteção ambiental, áreas quilombolas, projetos de assentamentos e reservas indígenas, são alguns dos desdobramentos provocados pelo setor salienta a análise do professor Sérgio Leite.

Uma outra questão sublinhada pelo professor recai sobre a capacidade de pressão do setor sobre o Estado, através da agenda do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que visa à efetivação de obras de infra-estrutura no setor de transporte, cujo objetivo é a redução nos custos de escoamento da produção. Além da pressão o setor prima em garantir assentos em locais estratégicos do governo e em executivos e legislativos estaduais, a exemplo de Blairo Maggi.

Ao contrário das análises que costumam perceber o setor do agronegócio como um bloco monolítico, o professor Leite reflete no sentido oposto, e destaca que há tensões de interesses dentro do próprio setor como a disputa por territórios entre produtores de grãos e os produtores de cana.

O mundo rural do Brasil passa por profundas e rápidas modificações, dinâmicas que impulsionam inúmeros pontos de conflitos, tanto entre a própria categoria do agranegócio, quanto sobre a diversidade camponesa, e com desdobramentos sobre a configuração do espaço urbano.

A judiciarização dos conflitos pela terra, que tem desaguado na criminalização dos movimentos sociais tem sido ponto de reflexão dos pesquisadores da área jurídica. Tem sido campo de interesse as políticas públicas que incentivo à agrobiocombustíveis.

O conflito na Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde arrozeiro ocupam área indígena foi um caso lembrado em várias ocasiões, bem como as situações de disputa pelo território no Pará hegemonizadas pela Vale e Cargil. Outra questão é o avanço das monoculturas do oeste e sul do Maranhão sobre a região do Baixo Parnaíba, no Piauí.

Sobre o crescimento do setor, em certa medida creditado ao aumento do preço de commodities no mercado, tem-se a elevação do agronegócio no oeste da Bahia numa taxa média de 144%, passou de 7,5 hectares para 17,5 hectares. O mesmo crescimento vertiginoso é notado no oeste do Pará. Outro dado relevante na pesquisa do professor Sérgio Leite recai sobre o protagonismo exercido pelas empresas multinacionais, entre elas a Cargil Bunge e Dreifus.

Já as observações da professora Vera Lúcia da Universidade de Araraquara (UNIARA), estão concentradas na região do Pontal do Paranapanema, São Paulo, nicho de vários projetos de assentamentos rurais controlados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A pesquisa da professora, que enfatiza a dificuldade ao acesso de dados confiáveis no governo, tem como inquietação analisar a relação dos assentados da reforma agrária como fornecedores de cana para usineiros. A situação marcada pela diferença das forças envolvidas acaba por reificar a condição subordinada do camponês.

Políticas públicas face à diversidade do mundo rural é o debate da tarde do dia 11, que ocorre no auditório da Unidade Acadêmica de Arte e Mídia. Leonildes Servolo de Medeiros, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Fernando Lourenço, da Universidade de Campinas (UNICAMP), Francisco Caporal, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) especialista em agroecologia e Sérgio Schneider da Universidade Federal Rural do Rio Grande do Sul (UFRGS) são os debatedores. O encontro se encerra na manhã do dia 12 .

Rogério Almeida é colaborador da rede www.forumcarajas.org.br e articulista do IBASE e Ecodebate

[12/09/2008] [ O conteúdo produzido e assinado pelo EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor e ao Ecodebate, como fonte original da informação.]