Banco Mundial divulga relatório (A note on rising food prices) sobre a crise alimentar e os biocombustíveis
O relatório foi preparado para embasar os debates da cúpula do G8, conforme noticiamos em 4/7 na matéria “ONU e Banco Mundial atribuem a biocombustível parte da culpa por alta dos alimentos” e, em 7/7, “Biocombustíveis podem ser até piores do que se pensava a princípio” .
O relatório é um duro golpe no programa norte-americano de produção de etanol de milho, que o estudo considera um dos principais responsáveis pela “explosão” dos preços das commodities agrícolas. Por Henrique Cortez, do EcoDebate.
O estudo afirma que os preços das commodities aumentaram 130 por cento no período de janeiro de 2002 a junho de 2008 e 56 por cento a partir de janeiro de 2007 a junho de 2008, calculando que os biocombustíveis europeus e norte-americanos foram responsáveis por 70 ou 75% do aumento de preços. O relatório atribui pequena relevância ao etanol de cana-de-açúcar produzido no Brasil.
O estudo avalia que, sem os biocombustíveis, os preços dos produtos alimentares só teriam aumentado 39 por cento durante o período 2002-2008, e, no máximo, 16 por cento entre janeiro de 2007 a junho de 2008.
No milho, por exemplo, o relatório contradiz o argumento norte-americano que o aumento de preços foi devido ao aumento do consumo do milho para ração animal. Segundo o relatório, a quantidade de milho consumida, no mundo inteiro, como alimento para animais cresceu apenas 1,5 por cento por ano, entre 2004 e 2007. Em contrapartida, a quantidade consumida para a produção de etanol saltou para 36 por cento por ano.
Quanto à soja, na produção de biocombustíveis, teve o seu preço elevado de duas maneiras: 1) aumento da produção Europeia para a produção de biodiesel ; e 2) redução da área dedicada à soja nos EUA, em 2007, substituída pelo milho para etanol.
Os EUA expandiram a área agrícola do milho em 23 por cento em 2007, em resposta à alta dos preços do milho e rápido crescimento da procura para produção de etanol. Essa expansão resultou em uma diminuição em 16 por cento da área de soja, reduzindo a produção e contribuindo para um aumento de 75 por cento nos preços da soja, entre abril de 2007 e abril de 2008.
O relatório possui uma longa e detalhada avaliação do aumento dos preços do arroz e do trigo, desde questões climáticas regionais à redução das exportações de grandes produtores, como a Índia, por exemplo.
Este relatório, na realidade, foi a principal base para que o relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler, afirmasse que biocombustíveis são um crime contra a humanidade .
Vejam também o artigo Fome e direitos humanos, de Jean Ziegler e Relator da ONU culpa biocombustíveis e especulação pela crise dos alimentos.
Para uma melhor compreensão sobre alimentos e biocombustíveis sugerimos que acessem a tag “crise alimentar“.
Relatório: A note on rising food prices
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[EcoDebate, 06/08/2008]