Destruição de pantanais e mangues pode liberar bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, dizem cientistas
As áreas úmidas do mundo, ameaçadas pelo desenvolvimento, secas e mudanças climáticas, poderiam liberar uma “bomba de carbono” de aquecimento do planeta se forem destruídos, disseram cientistas do meio ambiente neste domingo. Por Deborah Zabarenko, da Agência Reuters, no Estadao.com.br, domingo, 20 de julho de 2008, 17:41.
Os pântanos contêm 771 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, um quinto de todo o carbono da Terra e cerca da mesma quantidade de carbono que está atualmente na atmosfera, disseram os cientistas que participam da Conferência Internacional de Áreas Úmidas (Intecol, na sigla em inglês), relacionando os pântanos com o aquecimento global.
Cerca de 700 cientistas de 28 países se reúnem esta semana na Intecol, em Cuiabá (MT), nas proximidades do vasto Pantanal brasileiro, em busca de meios para proteger essas áreas sob risco.
Se todos os pântanos do planeta liberassem o carbono que contêm, isso iria contribuir fortemente para o efeito estufa relacionado ao aquecimento do planeta, disse o coordenador do Programa de Meio Ambiente do Pantanal brasileiro, Paulo Teixeira.
Nós poderíamos chamar isso de bomba carbono”, disse Teixeira por telefone, falando de Cuiabá, onde se realiza a conferência. “É uma situação muito traiçoeira.”
Áreas ùmidas não são apenas pântanos, elas também incluem brejos, áreas lodosas, deltas de rios, tundras, mangues, lagoas e planícies alagadas por rios.
Juntas, elas representam 6 por cento da superfície terrestre do planeta e estocam 20 por cento de seu carbono. Também produzem 25 por cento dos alimentos do mundo, purificam a água, reabastecem aquíferos e atuam como zonas tampão contra tempestades violentas em áreas costeiras.
Historicamente, as áreas úmidas vinham sendo consideradas como entrave para a civilização.
Cerca de 60 por cento das áreas úmidas do mundo foram destruídas no século passado, na maioria dos casos por causa de drenagem para uso agrícola. Poluição, diques, canais, bombeamento de águas subterrâneas, desenvolvimento urbano e extração de turfa ampliaram a destruição.
“Com muita frequência no passado, por desconhecimento, as pessoas consideraram as áreas úmidas como problemas que requeriam uma solução, mas elas são essenciais para a saúde do planeta”, disse o subsecretário-geral da ONU e reitor da Universidade Nações Unidas, Konrad Osterwalder. A ONU é uma das promotoras da conferência.
Até agora, os impactos da mudança climática são pequenos em comparação com as depredações provocadas pelo homem, disseram os cientistas em um comunicado.
Teixeira admitiu que as áreas úmidas têm um problema de imagem com o público, que geralmente tem boa disposição para salvar a floresta tropical, mas não os pântanos.
“As pessoas não têm boa impressão das áreas úmidas porque não conhecem o serviço para o meio ambiente que elas provêem”, disse ele.
[EcoDebate, 21/07/2008]