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Biogás é alternativa para gerar energia. Cresce o uso da tecnologia em granjas e cooperativas

O gás metano, mais conhecido como biogás, está se tornando uma alternativa viável para produção de eletricidade em propriedades rurais e já fomenta novos negócios. Fabricantes de geradores a biogás e biodigestores aproveitam o bom momento das tecnologias limpas para lançar novos equipamentos. Estima-se que o País pode gerar 440 megawatts de energia a partir do gás do lixo e de resíduos de criações de animais. Por Andrea Vialli, do O Estado de S.Paulo, 11/06/2008.

A paranaense Caetano Branco, que tem uma unidade de equipamentos voltados para geração doméstica de energia, é uma das que estão apostando nesse segmento. A empresa lançou em 2007 o primeiro gerador de energia movido a biogás, com potência de 10 MW. O foco eram propriedades rurais que geram muito resíduo, como granjas e fazendas de suínos. No processo, os dejetos são colocados em um biodigestor – câmara hermética onde a matéria orgânica, diluída em água, sofre um processo de fermentação, que resulta na produção de um efluente de gás metano. Um compressor bombeia o gás para o gerador de eletricidade.

“Observamos as necessidades de um mercado que estava desperdiçando uma fonte importante, o biogás. Os dejetos, que antes contaminavam rios e lençóis freáticos, agora produzem energia em cooperativas e outras empresas rurais”, explica Marcelo Utrabo, presidente da Caetano Branco. A empresa prepara, para o segundo semestre, o lançamento do gerador “bioflex” – que funciona com biogás e etanol.

O empresário rural Vanio Deutnner, que possui uma granja com 22 mil codornas em Petrolândia (SC), a 180 quilômetros de Florianópolis, aderiu à tecnologia. “A produção da granja cresceu nos últimos anos e eu não sabia o que fazer com os dejetos das aves”, conta. Com um investimento de R$ 18 mil, Deutnner instalou o equipamento e, no primeiro mês, verificou uma redução de 35 % na conta de luz. A eletricidade produzida é usada na estufa para aquecer as aves. A expectativa do produtor é que, com o uso contínuo, a economia de energia chegue a 50%.

CRÉDITOS DE CARBONO

Outra empresa que está lucrando com esse novo mercado é a Sansuy, de Embu (SP). Há 20 anos a companhia, que fabrica plástico para cobertura de grandes superfícies, começou a notar o interesse de produtores rurais que queriam tratar seus efluentes. Nos últimos cinco anos, a demanda explodiu, segundo Luiz Hiroma, gerente de biodigestores da Sansuy. “A possibilidade de produzir energia elétrica a partir dos resíduos e de vender créditos de carbono fez a procura crescer muito”, diz. Atualmente, a empresa tem 1.070 biodigestores instalados em todo o País – 300 deles só este ano. O alto preço do petróleo, matéria-prima dos fertilizantes, também tem contribuído para elevar a procura. “Além do biogás, o processo de fermentação da matéria orgânica no biodigestor resulta em um efluente que, quando seco, é um ótimo adubo. É um retorno à adubação às antigas”, diz.

A gigante Sadia espera começar a produzir energia nas propriedades dos seus produtores integrados a partir de 2009. A empresa criou em 2005 um programa para reduzir o impacto ambiental da criação de porcos de 1.104 fornecedores em quatro Estados. Foram instalados biodigestores nas granjas, com o objetivo futuro de produzir energia elétrica com o biogás e negociar créditos de carbono no mercado internacional.

“Agora, o projeto está em fase de análise na ONU para venda de créditos de carbono – está prevista a negociação de 6,2 milhões de toneladas de gases do efeito estufa que deixaram de ser lançados na atmosfera”, explica Paloma Cavalcanti, coordenadora do programa Suinocultura Sustentável da Sadia. A empresa também tomou um empréstimo de R$ 60,5 milhões no BNDES para dar continuidade ao programa, que vai incluir também produtores rurais da região de Lucas do Rio Verde (MT), onde inaugura em breve uma nova planta.

COMO FUNCIONA

Biodigestor: espécie de câmara hermética onde a matéria orgânica, misturada à água, passa por processo de fermentação sem oxigênio. Do processo, resultam o efluente líquido – que pode ser usado como fertilizante – e o biogás, que produz eletricidade

Biogás: o metano produzido no biodigestor é comprimido e usado para alimentar o gerador. A eletricidade produzida pode ser usada em iluminação, aquecimento de granjas e secagem de grãos