O homem em harmonia com o meio ambiente
A Reserva Extrativista Cazumbá Iracema é um dos modelos de projeto de desenvolvimento criado no país para mostrar que é possível a convivência harmoniosa do homem com a floresta. Nessa modalidade de ocupação, as comunidades fazem uso sustentável dos recursos naturais sem agredir o meio ambiente, incentivam o turismo e cuidam da reposição de espécies ameaçadas de extinção. Por Val Sales, do jornal Página 20, AC, 09/04/2008.
A Reserva foi criada em setembro de 2002 e ocupa uma área de 750 hectares no meio da floresta amazônica. Durante a época das chuvas o acesso terrestre à unidade, desde Sena Madureira, fica interrompido pelos rios Caeté e Macauã, sendo possível apenas pelos ramais do “16” e do “Nacélio”.
Na localidade moram 317 famílias que vivem do extrativismo de castanha-do-brasil, pesca, artesanatos de borracha e sementes, agricultura e pecuária de subsistência. A área limita-se ao norte com a Terra Indígena do Alto Rio Purus e ao sul com a Floresta Nacional de Macauã.
O agente administrativo da Reserva e representante do Instituto Chico Mendes, Aldeci Cerqueira Maia, cuja família foi a primeira a chegar no local, garante que o trabalho é desenvolvido levando em consideração principalmente a participação comunitária e a sustentabilidade. “Levamos muito a sério os projetos que garantem o desenvolvimento sustentável de nossa comunidade, assim como a valorização das pessoas que vivem e trabalham aqui”, assegura.
Os moradores de algumas colocações praticam a pecuária, enquanto a maioria vive da caça e da criação de animais de pequeno porte como galinhas e porcos. O líder comunitário Aldeci Cerqueira faz questão de mostrar os projetos que são desenvolvidos na área. Entre eles está a criação de porcos-do-mato e jabutis. “Nosso objetivo principal é promover a reposição de espécies ameaçadas e garantir, de forma sustentável, a alimentação das famílias”, acrescentou.
Criação de porcos-do-mato
A área que serve de criadouro de porcos-do-mato compreende 17 hectares da reserva onde estão soltos 15 animais totalmente selvagens, mas protegidos da ação predatória do homem. Parte deles foi colhida na cidade, onde havia sido adotada por algumas famílias e depois abandonada em função da não-adaptação fora de seu habitat natural.
O número de 15 animais poderá parecer pequeno, no entanto, o agente administrativo Aldeci Cerqueira Maia explica que a procriação acontece de forma rápida, e que, por força da lei ambiental, o tamanho da área citada somente pode abrigar 30 animais de cada vez. “Além da força da legislação, não se pode colocar mais porcos nessa área porque eles são selvagens. Os que estão há mais tempo no terreno devoram os que chegam”, lembra.
A manutenção dos porcos-do-mato é de responsabilidade dos próprios moradores da reserva, sendo que a maior parte do alimento consumido pelos bichos é proveniente da mata, o que faz com que eles não se tornem dependentes dos homens.
90% de toda a criação é devolvida à floresta e o restante dos 10% serve de alimento ou é comercializado pela comunidade. “Eles recebem milho, macaxeira e restos de comida, mas dentro da área onde vivem há uma imensa variedade de palmeiras que lhes servem de alimento natural”, enfatiza o agente.
Jabutis livres da ação dos predadores
Numa área de um hectare, a comunidade da reserva mantém 160 jubutis que também são preservados da ação predatória do homem. Inicialmente a criação iria servir para também para a comercialização, mas uma lei normativa proibiu a ação, ficando liberada somente o consumo próprio e o repovoamento da floresta.
Os jabutis ocupam uma área onde estão plantados quatro mil pés de pupunha, que lhes serve de alimento. “Todos esses jabutis foram fruto de apreensões do Ibama feitas inclusive na área de Rondônia”, lembra Aldeci. No cativeiro estão as espécies Comum, Açu e Maravilha.
A caça ao jabuti não é permitida, assim como a captura dos animais do cativeiro para a alimentação das famílias. Todos estão cientes da legislação e fazem questão de obedecer e fazer com que as regras sejam cumpridas. “Aqui as espécies são cuidadas e protegidas da ação predatória.”
Hotel ecológico
Os moradores também tratam com cuidado do turismo e mantêm um hotel ecológico em uma das áreas mais bonitas da Reserva. As instalações estão fechadas no momento e receberão reformulações para acolher os turistas que chegam à área provenientes de lugares como a França, Holanda, Peru e Estados Unidos.
O hotel possui cinco chalés equipados com camas, banheiros e outros apetrechos domésticos para oferecer maior conforto aos visitantes. A construção do hotel foi feita há dois anos com recurso de um prêmio de incentivo à conservação da biodiversidade, no valor de R$ 30 mil. A comenda foi recebida pelo agente Aldeci Cerqueira, que fez questão de investir na própria área da reserva.
“O hotel não está aberto no momento porque não possui um plano de uso aprovado”, explica ainda o agente. Segundo ele, é preciso fazer um levantamento do potencial local e melhorar a estrutura para atender bem o turista. “O levantamento do potencial já está sendo feito e este ano nós vamos trabalhar a capacitação da comunidade para que ela esteja apta a receber os visitantes”, ressalta.
Quem representa a Reserva
A população da Reserva Cazumbá Iracema é representada pela Associação de Moradores do local, um comitê de acompanhamento do projeto e núcleos de apoio na própria comunidade. O trabalho representativo na área envolve os seguintes órgãos:
– Ibama: por meio da equipe técnica da Gerência Estadual do Acre, integrada por técnicos da sede, em Rio Branco e do escritório local de Sena Madureira e um técnico de apoio na sede da Autarquia, em Brasília.
– Embrapa: por meio de uma equipe de pesquisadores envolvidos nos diversos planos de ação e de um coordenador desse grupo.
– Ufac: por meio de uma equipe de pesquisadores envolvidos nos diversos planos de ação e de um coordenador desse grupo.
– Secretaria de Extrativismo e Produção Familiar do Estado do Acre (Seprof): por meio de uma equipe técnica de seus escritórios em Rio Branco e Prefeitura de Sena Madureira, além do Conselho Nacional dos Seringueiros e Grupo de Trabalhos Amazônicos.