Austrália controla antibióticos para animais e diminui resistência bacteriana
Medida reduz problema com microrganismos que afetam seres humanos. Antibioticoterapia para animais de criação gera bactérias resistentes. Não estamos sós no mundo e nossos atos se refletem na natureza. Essa verdade nem sempre é respeitada pelos homens, com conseqüências. Luis Fernando Correia, Especial para o G1, 22/02/2008 – 09h03.
O uso indiscriminado de antibióticos na criação de animais vem sendo apontado como um dos responsáveis pela alteração do padrão de resistência das bactérias aos antibióticos. Um grupo de cientistas australianos comprovou que a política de restrição da utilização de antibióticos na criação animal diminuiu o padrão de resistência de uma bactéria causadora de problemas intestinais.
A bactéria chamada de Campylobacter jejuni é freqüentemente responsável por surtos de diarréia transmitida por alimentos. Os médicos vêm encontrando dificuldades no combate a essa bactéria por causa do desenvolvimento de resistência às quinolonas, uma classe de antibióticos que poderia abreviar os quadros diarréicos. Uma das causas do aumento da resistência das bactérias a esses antibióticos é seu uso em animais de criação..
A Austrália, em uma medida radical, proibiu o uso desses medicamentos em animais em todo o país em 2004. Essa medida segue o que já foi feito, desde 1986, na Suécia. O paradigma radical é a Noruega, onde o uso de antibióticos pelos animais de corte nunca foi permitido.
Agora, passados alguns anos, os médicos australianos conseguem avaliar o impacto dessa política sobre a resistência bacteriana. Foram coletadas amostras de mais de 500 pacientes de nove estados australianos e testadas para a resistência a uma das fluoroquinolonas, a ciprofloxacina.
Enquanto nos países onde a ciprofloxacina pode ser usada pelos criadores há 20% de resistência, as amostras australianas registraram somente 2% de resistência, comprovando a eficiência do controle do uso de antibióticos na criação animal como medida de saúde pública.
O tema é controverso, já que os criadores argumentam que necessitam dos remédios para evitar infecções que podem compormeter a qualidade e especialmente o volume da produção. A implantação desse tipo de controle não é simples e depende de esforço e determinação política — nos Estados Unidos, a mesma proibição levou cinco anos para ser implementada após uma batalha judicial entre os laboratórios e o governo.